O governador afastado Wilson Witzel pretende usar a conversa entre o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) e o presidente Jair Bolsonaro, divulgada no último domingo, nas alegações finais do processo de impeachment que corre contra ele. Ao GLOBO, Witzel afirmou que o trecho em que Bolsonaro cobra ao senador que a CPI que investigará a condução do combate à pandemia também inclua prefeitos e governadores, serve como prova de que o presidente persegue chefes do Executivo que se opõem a ele.
Desde agosto do ano passado, quando foi afastado do cargo por suspeitas de comandar fraudes em compras e contratos para o combate à pandemia, Witzel se diz alvo de um complô político por ter se desentendido publicamente com o presidente.
— Vou usar no meu processo de impeachment para deslegitimar a investigação e acusação — afirmou sobre o trecho do diálogo.
Na última segunda-feira, Witzel já havia se referido à conversa entre Bolsonaro e Kajuru em uma postagem no Twitter. Sem citar que pretendia usar o material em sua defesa, afirmou:
“Meu processo de impeachment é injusto e o início do projeto intervencionista de Bolsonaro. Hoje vimos a manobra da CPI da pandemia para continuar sua perseguição aos Governadores e Prefeitos. Espero que os autores políticos do RJ reflitam e vejam que a democracia está em jogo”.
Para Witzel, as investigações que embasam o seu afastamento do cargo e o processo de impeachment contra ele sofrem interferências diretas do presidente. Em seu último pronunciamento, na sessão que deve marcar o desfecho do processo de impeachment, ele também deve mencionar a aproximação de Bolsonaro dos suplentes dos governadores afastados.
— Vou denunciar que Bolsonaro quer patrocinar o impeachment de governadores. Ele foi a Chapecó para agradar a governadora em exercício e prejudicar o Governador Carlos Moisés — afirmou em relação à visita que o presidente fez na última semana à cidade catarinense, após o segundo afastamento de Carlos Moisés (PSL-SC) do governo de Santa Catarina ter sido confirmado. Durante a visita à chapecó, esteve acompanhado da governadora em exercício, Daniela Reinehr.
No Rio de Janeiro, de acordo com ele, a proximidade entre Bolsonaro e o governador em exercício Cláudio Castro tem como pano de fundo o Regime de Recuperação Fiscal do estado.
— Bolsonaro está fazendo uma intervenção ilegal no governo do Rio, usando o Regime de Recuperação Fiscal — completa.
A fase de instrução do Tribunal Especial Misto que julga o impeachment de Witzel terminou no último dia 7. Desde então, a defesa e acusação têm 20 dias corridos para apresentar as suas alegações finais. No dia da sessão final, que deve ocorrer até o final deste mês, o relator do caso, o deputado Waldeck Carneiro, irá apresentar o seu voto.
Defesa e acusação terão 30 minutos para manifestações. Para o impeachment ser confirmado, a acusação precisa ter 2/3 dos votos – ou seja: pelo menos sete dos dez desembargadores do Tribunal de Justiça do Rio e deputados estaduais que integram o Tribunal Misto precisam votar pelo afastamento definitivo de Witzel.
Apesar dessa expectativa de desfecho, os advogados de Witzel ainda consideram a possibilidade de conseguir o adiamento da sessão ou mesmo a suspensão do processo de impeachment. (fonte:oglobo.globo.com)
Deixe um comentário