O Ex-governador do Estado de Goiás, Marconi Perillo, (PSDB), concedeu uma entrevista de duas páginas ao jornal O Popular neste sábado, 03,07. Confira abaixo a íntegra da entrevista
Perillo: “O PSDB não tem de ter vergonha da sua história”
Em entrevista exclusiva ao POPULAR, ex-governador fala da derrota e desgastes que sofreu em 2018 e dos planos para o futuro
“O PSDB não tem de ter vergonha da sua história”, diz o ex-governador Marconi Perillo (PSDB), ao falar pela primeira vez detalhadamente sobre as investigações e denúncias contra seus governos e campanhas eleitorais e da derrota em 2018 na disputa ao Senado. Depois de 2 anos e 8 meses se manifestando apenas por notas oficiais, entrevistas curtas e mensagens em redes sociais, o tucano falou com exclusividade ao POPULAR sobre os desgastes que sofreu, os planos para 2022, as operações, avaliação do governo Ronaldo Caiado, as contas do Estado, de seu patrimônio e da vida pós-governo.
Desde outubro de 2018, quando perdeu a eleição e foi alvo da Operação Cash Delivery, o sr. não falou a respeito das investigações, e mudou-se para São Paulo sem falar publicamente, sem explicar a mudança. Foi uma postura compatível com uma das principais lideranças políticas do Estado e alguém que foi governador por quatro mandatos?
Primeiro agradeço a oportunidade de falar com você e com o jornal O POPULAR sobre os nossos governos, o trabalho que fizemos em Goiás, o legado que deixamos e também sobre esses episódios. A verdade é que, depois de uma derrota inesperada – até nove dias antes das eleições, eu estava em 1º lugar nas pesquisas e a gente sabe que tudo que foi feito foi para me derrotar para o Senado -, e toda aquela armação que ocorreu, é claro que eu fiquei extremamente triste, envergonhado, e até sem forças para falar sobre o tema. Aquilo foi um processo de humilhação muito grande depois de toda a história que eu ajudei a construir no Estado. Por outro lado, eu tinha uma premência grande de buscar um trabalho para que eu pudesse cuidar das despesas da minha casa, sustentar minha família. Eu não tinha outro caminho senão buscar um trabalho. E aqui em Goiás eu sabia que seria praticamente impossível, apesar das muitas e boas relações que tenho com o empresariado, com o setor produtivo. Eu tinha convicção de que se eu fosse procurar algum desses empresários eu poderia conseguir uma consultoria, um emprego, um cargo de conselheiro, mas sabia que esse empresário seria alvo de muita perseguição, como aconteceu mesmo sem eu ter emprego aqui. Por coincidência – por uma obra de Deus, eu tenho certeza -, três dias depois que cheguei em São Paulo eu me encontrei casualmente com o presidente da CSN (Benjamin Steinbruch), ele se solidarizou comigo e me perguntou o que eu estava fazendo em São Paulo, eu disse que estava procurando emprego, e ele me convidou. Isso pra mim foi fundamental para que eu pudesse estabilizar minha vida familiar, profissional, econômica e buscar alternativa na iniciativa privada, já que passei 38 anos da minha vida no setor público. Não havia clima para anunciar que eu estava indo procurando emprego, até porque a maioria das pessoas não ia compreender isso, achariam que era falso. Eu perdi a eleição e meu caminho era procurar meu sustento, um trabalho, um abrigo. Foi o que fiz.
Ficou com raiva do eleitorado goiano?
De forma alguma. É até bom responder isso. Quando eu soube da derrota, e como tinha sido – eu tive mais de 400 mil votos apesar de tudo que aconteceu -, eu chamei a minha família, na chácara, e fomos rezar. Agradeci a Deus por todos os votos que tive e por todas as eleições que venci ao longo da minha vida. Foram 11 disputas, contando o 2º turno, e eu ganhei 10. Agradeci porque eu tinha certeza que era da vontade de Deus. Faz parte, a gente tem de saber conviver com a derrota. E aquele foi um processo de amadurecimento muito grande. Talvez o maior da minha vida.
Mas a ida para São Paulo, da forma como foi, abriu espaço para o governador Ronaldo Caiado repetir o discurso de que, no governo dele, bandido muda de Estado ou muda de profissão e de que o sr. era um “refugiado em São Paulo”. Hoje acha que foi um erro?
Eu não tinha outro caminho. Meu caminho era procurar trabalho. Não fiz renda na minha vida. Não tinha condições de sobreviver. Essa é a verdade. É uma narrativa fake da parte dele. Eles já vasculharam a minha vida durante dois anos e meio, o mesmo ocorreu na CPI do Cachoeira, e era um processo persecutório como esse de agora do governo dele. E o que encontraram? Qual bem meu foi encontrado que não esteja declarado? Que riqueza encontraram? É uma narrativa falsa, mentirosa, de quem gosta de tentar subir na vida nas costas dos outros, com lanterna na popa, olhando para trás, pelo retrovisor, tentando se erguer pisando nos outros. Aliás, essa é uma característica dele: tentar subir na vida sempre pisando nas pessoas que estão derrotadas, por baixo. Bajula os que estão por cima, como foi feito no início com o presidente Bolsonaro, e depois pisa nos que estão derrotados, que estão humilhados, ou às vezes precisando de um reconhecimento. Esse é o estilo dele, não é o meu. Graças a Deus, sucedi o governador Maguito, Naphtali, Helenês, o governador Alcides, tive seis disputas com o governador Iris Rezende, e eu nunca os desrespeitei. Quantas vezes eu me encontrei com eles publicamente, sempre tivemos relações extremamente cordiais. Quando Iris foi prefeito coincidindo com meus governos, fiz muitas homenagens a ele, que era meu principal adversário. Acho que a gente tem de encarar a política como arte, como ciência, como algo que constrói, que precisa necessariamente ser elegante, de alto nível. Hoje fazem política infelizmente no Brasil e em Goiás na base do vale-tudo, na desconstrução das biografias. Todos nós que fomos governadores temos uma história, deixamos um legado no Estado, alguns mais, outros menos, mas todos nós temos uma parcela significativa de trabalho e muito trabalho empregado na construção, na edificação das bases que transformaram nosso Estado nos mais importantes do País.
O que o sr. faz exatamente na CSN?
Eu tenho uma função múltipla. Eu assessoro o presidente da empresa, trabalho institucionalmente com os governadores de todos os Estados onde a CSN tem atividades, e são muitas – mineração, siderurgia, cimento, agropecuária, imobiliária, banco. Eu vim, por exemplo, a Goiás um tempo atrás com diretores do banco Fibra, que é da CSN, para fazer uma apresentação do banco na Fieg e na Fecomércio, para empresários goianos. Atuo também em Brasília, nas mais diversas instituições. Passo boa parte do tempo dividido entre São Paulo, Goiás e Brasília. E também visito outros Estados, e faço muitas videoconferências com governadores, secretários. Meu trabalho é muito diversificado, amplo, e é uma atividade muito intensa.
O seu governo foi alvo em sequência do caso Cachoeira, das operações Decantação 1 e 2, Cash Delivery, Compadrio, e de outras investigações. Como avalia que se chegou a tudo isso?
Em primeiro lugar é preciso saber quem estava por trás disso. O procurador Mário Lúcio tem ligação histórica com Kajuru, que hoje é senador da República. Kajuru fez campanha para ele para governador do Tocantins. Isso tudo começou através dessa ligação. Eu não tenho dúvidas. Agora, vamos colocar os pingos nos is. Fizeram a operação Decantação em 2016, prenderam o presidente da Saneago (José Taveira), o Afrêni Gonçalves, e outros e, três anos depois, o mesmo juiz que havia determinado a prisão os absolveu sumariamente, criticando a ação do Ministério Público Federal. Sobre a Decantação 2, eu tive acesso a uma perícia feita da Polícia Federal que não constata qualquer tipo de superfaturamento na Saneago. Sobre a outra, já determinaram a devolução de bens e tenho convicção de que não vai dar em nada porque foram operações forçadas para tentar me desmoralizar. No caso da Monte Carlo, relacionada ao empresário Carlos Cachoeira, havia uma única fala minha de cumprimentos no aniversário. Nada mais. A minha vida foi vasculhada de cima para baixo, ninguém em Goiás foi tão investigado como eu e nenhuma vírgula sobrou, salvo uma acusação do jornalista Luiz Carlos Bordoni de que recebeu 90 mil da campanha pago por Carlos Cachoeira. Isso não foi provado e não será provado porque não existiu. Tanto é que movi ação por danos morais contra esse jornalista em 2012, já transitou em julgado e ele me deve hoje uma enorme indenização porque não provou nada.
A Operação Cash Delivery veio da Lava Jato, com as delações da Odebrecht. Não nasceu em Goiás, no MPF daqui.
Na verdade, sofreu uma pressão aqui em Goiás. Quem fez os pedidos todos foi o procurador daqui, o Mário Lúcio. Veio do STJ, depois que perdi o foro, e aqui houve uma celeridade no sentido de buscar provas. Mas é impressionante porque, ao contrário de delações sobre outros Estados e outras autoridades do governo federal, os quatro delatores são claros, cristalinos ao dizer que fizeram doações de campanha. Nenhum deles, pode ler todos os processos, diz que a empresa obteve vantagens ou que houve propina e corrupção. A base é a delação e, nela, ninguém afirma nem de longe que houve corrupção. Ao contrário, chegam a dizer que numa licitação que entraram na Saneago para subdelegação de esgoto em quatro cidades goianas, eles tiveram de fazer um ágio muito grande para vencer. Se houvesse conluio ou prática ilícita da minha parte ou do governo, eles não teriam de gastar muito mais para vencer. Estou absolutamente convencido de que, ao final e ao cabo, haverá justiça. A Justiça Eleitoral já mandou arquivar o que diz respeito a ela e remeteu uma parte à Justiça Federal. Esse procedimento está equivocado porque já há decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a competência. Asseguro a todos: não houve crime, ilícito ou desvio. Eles dizem claramente que ajudaram na campanha eleitoral de 2010 e 2014. E nem provam isso.
Mas o principal da Operação Cash Delivery foi a comprovação de entregas de dinheiro no apartamento de Jayme Rincón em São Paulo.
As ajudas que vieram para a campanha foram todas destinadas aos partidos coligados, aos candidatos a deputado federal e estadual. Minhas campanhas, majoritárias, eram feitas todas com doações legais.
Na época, Jayme admitiu em depoimento as entregas no apartamento dele. E disse que foi para campanhas de aliados políticos e que os valores foram oficializados com ajuda de empresas, o que significa lavagem de dinheiro para o MPF. Então lavagem de dinheiro e o caixa 2 que é considerado falsidade ideológica são ilícitos. O sr. tinha conhecimento disso?
Não tinha. Primeiro caixa 2 não era falsidade ideológica naquela época. E era comum essa prática. Várias empresas doavam para todos os candidatos, de todos os partidos. O problema é que há uma hipocrisia muito grande no Brasil. Naquela época muitas empresas se negavam a fazer doação de caixa 1, e para todos, de todos os partidos, da esquerda à direita. Essa é a verdade.
Então houve caixa 2 para aliados?
Para aliados, com certeza. Para a minha campanha, não.
Como explica o fato de o sr. ter codinomes na planilhas da Odebrecht, de Patati, Padeiro, Master?
Não sei. Isso é com eles.
Caixa 2 então não foi para a sua campanha, mas para campanha de aliados, que eram importantes para garantir tempo de televisão, coligações fortes. Então de qualquer forma o sr. foi beneficiado pelo caixa 2. O sr. sabia disso e achava que tudo bem?
A gente não participa do dia a dia da campanha. Eu era governador das 7h às 17h e fazia campanha fora de expediente. Então tinha toda uma agenda de governador e muito puxada de candidato. Não é fácil ficar conversando sobre a contabilidade, a parte financeira da campanha. A gente confia e delega. Quando falei com a Odebrecht, disse que queria doação legalizada. Disseram que não era prática da empresa, mas eu insisti e indiquei quem deveriam procurar para falar sobre isso, o Jayme e outros coordenadores. Numa campanha de governador, a pressão de candidatos a deputado federal, estadual, senador, é muito grande para ajuda das campanhas e naquele tempo, repito, as doações privadas eram aceitas pela Justiça Eleitoral.
E não pensou em fazer uma reclamação por atuação política do procurador?
Essas coisas a gente tem de dar tempo ao tempo. Quantos vazamentos não ocorreram aí por conta do caso Lula? Tem de esperar e de repente a gente pode obter provas robustas em relação a isso. E às vezes não.
O sr. entende que sofreu da mesma forma que Lula em relação à atuação do MPF?
São casos distintos, mas eu não tenho dúvidas de que em relação a mim houve perseguição deliberada.
E em relação ao Lula?
Ao que parece também. Não tenho relação com ele, são casos diferentes, mas pelo que ficou constatado no Supremo Tribunal Federal, havia sim ilegalidades durante os procedimentos. Eu não quero entrar no mérito do que foi feito ou deixou de ser feito. Mas ficou constatado é que, ao longo do tempo, foram cometidas muitas arbitrariedades e ilegalidades como aconteceu comigo. Um órgão ministerial ou um magistrado tem de agir à luz exclusivamente da Justiça e do Direito.
E hoje o que pensa de caixa 2 e de dinheiro vivo sendo entregue em apartamento?
Não é hoje. Eu disputei 11 eleições e eu nunca cometi nenhum ato de deslize, nenhum ato de corrupção. Tanto é que ninguém nunca achou nada porque não tem. Se eu tivesse bens extraordinários, renda, não estaria trabalhando como estou. Mas, mesmo com financiamento público de campanha, existente agora, caixa 2 corre frouxo aí por todo lado. Eu não posso provar, mas chegam informações e você também deve saber. Nas eleições de agora (2020) e nas anteriores houve muito caixa 2. Apesar de estar proibido hoje caixa 2 e ajuda de empresas, pelo que sei, essa prática continua e pior do que antes.
Quando foi candidato em 1998, declarou R$ 299 mil em bens. Já em 2018, o valor declarado foi de R$ 6,78 milhões, 22 vezes mais. O Geraldo Alckmin, que foi governador por dois mandatos em São Paulo, declarou R$ 1,3 milhão de patrimônio. Como explica a elevação do patrimônio?
Quando a gente faz o imposto de renda, não se detalha se o imóvel foi adquirido com financiamento ou se foi pago à vista. O meu patrimônio aumentou porque comprei um apartamento em São Paulo, financiei pela Caixa Econômica Federal e até hoje pago, e outro em Guarujá, também financiado. Os financiamentos foram de mais de R$ 600 mil e de R$ 2,25 milhões. Só aí são R$ 3 milhões da declaração. Eu comprei um lote no Alphaville há quase 20 anos por um valor e quando vendi foi um valor bem maior, de mais de R$ 1 milhão, e declarei a diferença e paguei impostos do ganho de capital. Também comprei lá atrás, desde que me casei, há 33 anos, que recebi herança do meu sogro, comprei de irmãos da minha mulher, e naquela época a gente comprava pedaços de imóveis muito baratos. Mas ao longo desse tempo eu trabalhei e muito.
Então, acha o patrimônio é compatível com os salários de mandatos eletivos?
Expliquei que a metade do que foi declarado ainda está financiado. E quando se é governador do Estado, você deixa de ter muitas despesas.
Tem bens em nomes de terceiros?
Não. Eu tenho bens, a Valéria tem bens e os nossos bens estão no imposto de renda.
Em um dos episódios de troca de ataques do sr. com o governador Ronaldo Caiado, em 2019, ele fez críticas a seu patrimônio, falou de questões pessoais, para compararem gastos da família com cartão de crédito, os custos dos estudos das filhas na Suíças, festas de casamento. Como responde?
Acho lamentável, deplorável que uma autoridade desça a esse nível, com fakes, com leviandades, mentiras, e falando da família. Eu jamais faria isso. A minha filha morava na mesma escola e dormia no mesmo quarto da filha dele. São amigas ainda. Eu jamais entraria nesse tipo de coisa. Tudo que gastei quando ela estava lá, eu coloquei no imposto de renda. E os meus cartões também foram todos vasculhados. Não tenho nada a esconder de ninguém. Eu lamento muito que uma autoridade viva de tentar desqualificar seus adversários, transformar seus adversários em inimigos e sair por aí com falácias, dizendo que é bilionária. Prova! Ele tem todos os instrumentos nas mãos, e não tem feito outra coisa, com a sua Gestapozinha criada para perseguir adversários, que não investigar e procurar alguma coisa, pelo em ovo, para macular ou desmoralizar seus adversários. Em dois anos e meio como governador, você não vê um ato de perseguição ou de investigação em relação a algum companheiro de partido. Um dia antes das eleições municipais, ele fez um escândalo em Aparecida contra o prefeito Gustavo Mendanha, ontem fez operação em Trindade porque o Jânio Darrot se colocou como pré-candidato. Recentemente fez operação na casa do ex-governador José Eliton, que sequer foi citado no inquérito de mais de 800 páginas. Já fez isso comigo, com vários dos meus auxiliares, e tem feito isso até com setores da imprensa para intimidar todo mundo. É uma forma absolutamente autoritária de conduzir o governo no sentido de calar a boca. Com isso, muitas pessoas acabam aderindo ao governo, ao projeto político, com medo. As pessoas estão com medo de levantar a voz, de criticarem os desatinos, a inação, porque têm medo do governo, da polícia, de um pequeno núcleo de polícia que ele montou e que não bisbilhota o governo. Tanto é que quando algumas investigações chegaram próximo a ele e ao governo dele, trocou o delegado da Deccor e, não satisfeito, trocou depois, em um ato extremamente curioso e preocupante, o diretor-geral da Polícia Civil. Isso passou batido, não houve investigação. Por que essas pessoas foram substituídas? Houve uma troca de acusação seriíssima entre um primo dele, próxima a ele, ligadíssimo, chefe da segurança pessoal dele no passado, e o secretário de Segurança Pública. O secretário chegou a ser ameaçado de demissão e depois puseram panos quentes, jogaram água fria na fervura e ficou por isso mesmo. O primo acusou o secretário de corrupto, de ter pego dinheiro, R$ 1 milhão. Agora, quando fazem ilação comigo ou alguém ligado a mim, vem pra cima. Sobre eles, não houve nada. Ninguém investigou, nenhuma outra autoridade investigou. Vários focos de corrupção e desvios foram detectados em vários órgãos deste governo e você não vê nenhuma ação espetaculosa como as que fizeram conosco. Não só comigo e o PSDB, mas com outros partidos de oposição. Isso também foi feito de forma injusta com vários prefeitos que estavam na oposição. Há um Estado persecutório. Eu jamais criticaria as polícias, que aliás têm sido muito maltratadas, prejudicadas e desvalorizadas neste governo. Eu nunca chamei a polícia de “minha polícia”, mas eu valorizei, equipei, modernizei, criei centrais de inteligência, comprei armamentos e viaturas novos. A polícia de Goiás é completamente diferente daquela que recebi em 1999.
Mas, inclusive no evento de criação da Deccor, delegados também acusaram o seu governo de afastá-los para evitar investigações que atingiam pessoas da gestão.
Isso jamais chegou ao meu conhecimento. Para se ter uma ideia, eu chamei uma vez uma delegada que era militante do PT, boa delegada e hoje deputada estadual Adriana Accorsi – o pai tinha sido prefeito pelo PT, ela era militante do partido – , e por saber da atuação corajosa, destemida, competente, eu a convidei para ser diretora-geral da Polícia Civil. Vários dos meus diretores eu convidei sem conhecê-los, apenas pelos currículos, e por saber que eram bons investigadores. Um dos meus secretários de Segurança Pública, o Joaquim Mesquita, tinha falado comigo uma vez e eu o convidei para ser secretário como superintendente da Polícia Federal em Goiás, sabendo da competência técnica. Ora, se um governador não leva a sério essa relação de Estado entre polícia e governo, não faz isso. Lá, não sei se criaram mal-estar ou não, mas a responsabilidade e a competência para montar suas equipes era deles.
Não tinha influência do governo sobre o trabalho da Polícia Civil?
Nunca houve nenhuma influência. Eu nunca perguntei ao delegado-geral ou ao secretário sobre determinada investigação. O que eu fazia cotidianamente era cobrar providências, e eu era enérgico nesse sentido, em relação aos crimes. Mas jamais houve qualquer tipo de interferência por parte do governador em relação a assunto de Estado, que é o aparato de segurança pública. Você pode perguntar a qualquer policial se já houve qualquer tipo de interferência minha nos meus quatro mandatos.
Um dos alvos de operações e investigações do atual governo em relação a sua gestão é a Codego, que é um órgão que sempre provocou dúvidas sobre a necessidade de criação e a atuação, que coincidia com a de outras pastas. A Codego foi criada para uso político?
Não, ela foi criada para ser uma companhia ágil, leve, para cuidar dos distritos industriais, das áreas e do desenvolvimento regional de forma global. Não tinha nenhuma missão que não essa. É enxuta, pequena, não tinha grande orçamento. Apesar dessa hipocrisia, dessa incoerência em termos de acusações, o atual governo já trocou cinco ou seis vezes o presidente da Codego.
O sr. publicou uma mensagem nas redes sociais este mês dizendo que na vida é preciso fazer autocrítica sempre, saber reconhecer quando errou e não repetir os erros. Quais erros cometeu na vida pública?
A gente comete erros o tempo inteiro, como ser humano, como homem público, empresário. E erros os mais variados, de avaliação, de cálculo. Às vezes você acha que uma determinada pessoa é leal, que pode confiar e não é. Muitas vezes você imagina que uma pessoa tem perfil técnico, político, e não é assim. Mas talvez a maior autocrítica que se tenha de fazer é sobre a forma como a política é feita ao longo da história, as traições, o fato de algumas pessoas quererem o poder a qualquer custo, quererem se agarrar a projetos pessoais. E a gente vai vendo isso à medida que vai ficando mais distante, fora do poder, dá para enxergar mais. Eu tive oportunidade de ser ex-governador duas vezes. No primeiro momento, eu percebi muito disso, da hipocrisia, da falsidade. E agora muito mais. Mas essa autocrítica é mais nesse sentido, de perceber a fragilidade de nós, seres humanos.
Tem algum erro que cometeu e que acha que mereceria um pedido de desculpas?
Certamente muitos. Esse por exemplo do suposto caixa 2 na campanha de 2014 é um erro, apesar de que neste caso era permitido doações empresariais. Mas se eu tiver de pedir desculpas, certamente eu peço por este erro.
O sr. falou do pós-governo, e houve muitas ações abertas no Ministério Público depois que saiu. O que acha?
Muitas vezes as pessoas criticam o Ministério Público e o Judiciário. Eu tenho um profundo respeito por eles, aliás desde que fui deputado sempre defendi autonomia do MP, como governador também sempre defendi autonomia orçamentária, financeira, funcional. Mas às vezes um ou outro, por uma razão ou outra, não gosta da sua cara. No meu caso as ações de improbidade propostas foram praticamente por apenas dois promotores. Eu jamais generalizaria. Tenho profundo respeito pelos órgãos e poderes. Para ter ideia, de uma vez só uma promotora entrou com 26 ações de improbidade contra mim por conta das indústrias de etanol que trouxemos para Goiás. Não havia razão alguma para ação como esta e seria razoável uma só para apurar tudo. Tudo era legal, constitucional e depois de amplos estudos técnicos. Já ganhamos 9 dessas ações.
E em 2022, será candidato?
Essas coisas não dependem só de vontade e desejo. Eu não tenho vaidade para ser candidato. Deus já me deu oportunidade de ter muitos mandatos, trabalhei 24 horas por dia em todos eles para entregar os melhores resultados, os melhores governos. Primeiro lugar no Ideb na Educação, uma universidade pública em todos cantos de Goiás com 2% de orçamento, uma fundação de amparo a pesquisa com 0,5% de vinculação constitucional, polícias mais equipadas e bem remuneradas do País, hospitais de excelência, programas sociais robustos, Vapt Vupt, Bolsa Universitária, Renda Cidadã, Cheque Moradia, programa de infraestrutura, trabalho incansável para conseguir benefícios federais, como o aeroporto novo, duplicação de rodovias. No saneamento, tínhamos 12 estações de tratamento de afluente de esgoto, deixamos 100. Acho que Estado não foi feito para dar lucro, temos de ter Estado do bem-estar social, que se preocupa com as pessoas. E Estado planejado. Hoje não temos planejamento em Goiás, não temos uma visão estratégica de médio e longo prazo. Temos um governo que persegue, que não tem um foco, não tem capacidade criativa e inventiva de buscar programas novos, um governo que, na ânsia de tentar inaugurar alguma coisa, rebatiza nomes dos nossos programas, reinaugura obras que deixamos, como as USEs que agora são chamadas de Policlínicas, ou Hospital Regional de Uruaçu, escolas que deixamos praticamente prontas. Quando não acaba com nossos programas, rebatiza.
Mas se for candidato, será a qual cargo?
Eu não tenho ainda definição. É um assunto que vou analisar muito ainda, conversar com o meu partido, com outros partidos, vou avaliar pesquisas. Vou pensar muito, até porque estou bem onde estou, estou sendo muito valorizado e muito reconhecido como profissional e como ex-governador. Tenho acesso aos Estados, às instituições e isso me deixa extremamente feliz. As referências são sempre muito elogiosas a nosso Estado e ao nosso trabalho.
Mas então compensa largar o trabalho na iniciativa privada e voltar para a política?
Quando se tem espírito público, como eu tenho, compensa. Quando você pensa em deixar um legado de realizações que beneficiam as pessoas, e nós beneficiamos as pessoas o tempo inteiro, compensa. Os funcionários públicos nunca foram tão valorizados como nos nossos governos. A gente entendia que, para prestar um serviço de qualidade, o funcionário precisa ser bem treinado, qualificado e valorizado. Isso deixava a gente com margem pequena para fazer investimento? Sim, mas a gente fazia investimentos e pagava rigorosamente os salários em dia, valorizava os servidores e ainda entregava programas sociais.
Em 2013, depois do caso Cachoeira, o sr. nos deu entrevista dizendo que queria resgatar sua credibilidade e seu prestígio e preservar sua biografia. Depois superou a crise, conseguiu ser reeleito, e depois sofreu os novos desgastes e novamente quer preservar o legado. Acha que isso só será possível voltando à política?
Esse é um objetivo e continuará sendo. Só o tempo dirá. Com paciência, com o tempo, o que aconteceu e as acusações serão, uma a uma, desmontadas. Ao longo dos meus mais de 35 anos de vida pública, tive espírito público, voltado para fazer o bem. Não adianta falar. As pessoas vão ver. Vão ver ao longo do tempo que esse discurso falso moralista não se aplica a mim. Esse discurso falso moralista que muitas vezes o Caiado desfere em relação a minha pessoa ele fazia de forma muito mais ácida, mais dura e radical e até injusta em relação a Iris Rezende e ao MDB quando era oposição. Quantas vezes nós vimos e ouvimos ele dizer que Iris era o maior ladrão do País, que tinha roubado bilhões, dizia que o MDB tinha roubado o BEG, a Caixego etc. De repente ele parou de fazer isso porque foi conveniente para ele se aliar ao MDB em 2014, para se eleger, com a ajuda do partido, senador da República. Aí esqueceu as críticas do passado e, como eu não quis que fosse candidato a senador na minha chapa, ele passou a desferir todas as críticas, impropérios, inverdades, fake news, contra mim. Lamentavelmente. Eu não gostaria que fosse assim porque acho que política tem de ter alto nível. É preciso respeitar as pessoas, as famílias, o lado pessoal. Mas a gente vive hoje esse Estado policialesco, autoritário, retrógrado, sem planejamento, sem foco. Muitas vezes as pessoas acreditam por conta da repetição da narrativa para descontruir biografias e imagens de pessoas sérias, que só fizeram o bem.
Na campanha do ano que vem, esse discurso de honestidade e combate à corrupção ainda terá força?
Eu acho que a pauta dos costumes, que foi muito forte em 2018, especialmente em função da campanha do presidente Bolsonaro, mas vai ser uma pauta menor. Mas é claro que todas as pessoas estarão sempre preocupadas em votar em candidatos corretos, honestos. O que o Caiado tenta fazer o tempo inteiro é dizer que ele é honesto, ele que demite o delegado-geral da Polícia e o delegado da Delegacia de Combate à Corrupção, porque chegou perto do governo dele. Senta em cima do rabo e não toma medidas em relação a aliados dele, e, ao mesmo tempo, desfere golpes baixos e mentiras contra seus adversários. Isso é um Estado nazifascista, é uma coisa absurda. Mas, aos poucos, o rei vai ficando nu. As pessoas no Brasil vão tomando conhecimento desse tipo de postura, de comportamento pouquíssimo republicano e antidemocrático.
O diretório estadual PSDB aponta seu nome como pré-candidato ao governo. Tem essa disposição e não acha que é preciso ter renovação de nomes no partido?
Acho que tem de ter, sim, a renovação. Eu fico muito grato porque muita gente lembra do meu nome, pelo que a gente fez, pelo trabalho realizado. Não é pela fala, pela falácia, pelo discurso. Há uma diferença enorme entre a falácia, o discurso prepotente, arrogante e a verdade, que está estampada nas obras, no trabalho, no social, no desenvolvimento industrial. Goiás tinha PIB de R$ 17 bilhões e chegou a R$ 220 bilhões no nosso último ano de governo. Tínhamos a maior dívida proporcional do País, de 3,5. Nós deixamos o governo com uma relação entre receita e dívida de 0,8. Nossos governos pagaram R$ 40 bilhões de dívidas e pagamos rigorosamente em dia. O atual governo já deixou de pagar R$ 6 bilhões mais R$ 600 milhões de multa por não ter pago. E mais, fizeram discurso de terra arrasada, de déficit, de Estado falido, mas quando foram pedir ingresso no Regime de Recuperação Fiscal, o Tesouro Nacional, que é composto por técnicos independentemente de governos, negou peremptoriamente, porque o Estado não estava na condição descrita pelo governo.
Não estava em situação gravíssima, mas era grave, tanto que a Capacidade de Pagamento medida pelo Tesouro Nacional é nota C.
Mas eu sempre convivi com dificuldades, e sempre paguei a folha em dia, tinha os programas sociais, de infraestrutura, realizava obras e ia tocando sempre com aprovação das nossas contas, no programa de ajuste fiscal. Hoje os funcionários públicos são pisoteados e vão ficar dez anos sem condições de ter aumento (por conta da PEC do teto de gastos). E não deixamos de pagar a dívida, diferentemente do governo atual. Esse volume enorme de dívida não paga vai ficar pra frente. Os outros governadores vão ter de pagar, como aconteceu comigo.
Mas o governo terminou 2018 com atraso na folha, em pagamentos para prefeituras, em programas sociais.
Eu saí do governo em abril de 2018. O governador José Eliton fez um esforço danado para deixar todas essas obrigações em dia. Se ele tivesse conseguido receber os depósitos judiciais privados, que o Caiado impediu na Justiça, ele teria pago a folha no mês de dezembro. Agora, a folha de dezembro não é paga no mês vincendo. A lei permite que as folhas sejam pagas até o quinto dia útil do mês seguinte. O José Eliton pagou boa parte da folha e, segundo ele, deixou provisionada uma parte considerável. José Eliton é preparado, é um jurista, é sério e estava muito bem assessorado. E ele só não conseguiu resolver as questões mais urgentes porque foi impedido de acessar os depósitos judiciais. Pouco tempo depois o Caiado conseguiu receber. Foram R$ 2 bilhões de dívidas a mais que fez junto ao Poder Judiciário com precatórios judiciais privados.
Mas então José Eliton contava com um valor extra para fechar as contas.
Mas desde que o Estado é Estado sempre um governo deixa obras para outros terminarem, deixa dívidas para outros pagarem. O que estamos vendo são funcionários massacrados, obras que nós deixamos prontas ou licitadas, nomes rebatizados. A única mudança que houve até agora foi das nomenclaturas dos nossos programas e obras. O resto são incoerências. Comissionados, o discurso falacioso da oposição era contra. Nós conseguimos reduzir 5 mil comissionados em 2014 e mantivemos. Hoje o número de comissionados é praticamente o mesmo e O POPULAR mostrou isso. Na oposição, havia crítica contundente sobre ICMS de energia, combustíveis, telecomunicações. Agora, estão no governo. Basta um projeto de lei para diminuir os impostos.
O governador diz que não pode abrir mão de receita por conta das dificuldades financeiras.
Ele não tem dificuldades. Só neste quadrimestre, por não pagar a dívida, ele teve mais de R$ 1,6 bilhão de superávit. É um discurso vazio, frágil, facílimo de ser combatido, à luz do que a própria secretária da Economia disse esta semana. A Celg, o governador, quando senador, entrou com ação para investigar a privatização, que foi feita pela Eletrobras. Mas quem conduziu do lado do governo estadual? O dr. Fernando Navarrete, que depois foi meu secretário da Fazenda, é um homem probo, competente, e que agora é presidente da Celg G&T, aliás uma empresa que nós criamos e que, em pouco tempo, saiu de R$ 30 milhões para cerca de R$ 1,5 bilhão de patrimônio agora. Os mesmos que eram contra a privatização da Celg D, que teve de ser privatizada porque recebemos com muitos problemas depois da privatização de Cachoeira Dourada, são os que agora estão privatizando a G&T sem necessidade porque é enxuta, moderna, eficiente e lucrativa. Concessão de rodovias, quantas críticas fizeram em relação a nós? Agora estão fazendo estudos para privatizar e colocar pedágio. Radares, viviam nos acusando de criar indústria da multa. Me dizem que hoje tem o dobro de radares em rodovias do Estado. Santa incoerência. Obras paradas, demoraram 2,5 anos para reabrir o hospital que eu deixei pronto em Uruaçu, que o José Eliton inaugurou. Deixamos hospital de Águas Lindas pronto, poderiam ter investido R$ 40 milhões que gastaram no hospital de campanha para botar pra funcionar e não fizeram.
Mas lá a empresa parou as obras e precisariam fazer outra licitação.
Podiam ter licitado. Eles eram tão bons para criticar, por que não são tão eficientes e competentes para governar? Falavam muito de cooptação e adesismo. Nunca se viu tanta cooptação como agora. E, o pior de tudo, quando não vai por bem ameaçam de mandar polícia para investigar isso ou aquilo. E coopta com base em emendas e comissionados. Gastos com mídia também viviam criticando.
Eles elevaram recentemente, mas ainda é bem aquém dos gastos de seu governo.
Mas elevaram muito. Eu critico é dizer que nunca fariam e estão fazendo. E vão fazer pior, pode esperar. Prometeram mundos para os funcionários públicos, mundos para todas as regiões. Cadê as entregas? É importante que o eleitor reflita, compare, pense sobre essas incoerências e práticas. É muito fácil apontar o dedo, criticar. Quero saber é se faz diferente, se faz melhor, e se faz sem rancor, sem ódio no coração. Eu temo muito por essas pessoas falso moralistas, que apontam o dedo como algo midiático. Eu tenho medo de como vão prestar contas com Deus. Acusam as pessoas de tudo e fazem muito pior, e às escondidas. E quando há oportunidade de ter alguma coisa revelada vão lá e trocam as pessoas responsáveis por investigações. Isso é muito grave, muito triste.
O Tribunal de Contas do Estado reprovou as contas de 2018, do seu governo e de José Eliton, e agora por decisão judicial haverá um novo julgamento. O que diz?
Vamos ter oportunidade agora de fazer a nossa defesa, apresentar o contraditório, e nós vamos provar que a aprovação das contas do atual governo, em 2019 e 2020, se deu exatamente igual ao que aconteceu em 2018, quando nossas contas foram reprovadas por 3 a 2, aliás com votos muito consistentes que foram vencidos.
O José Eliton, que preside o PSDB, nos deu entrevista dizendo que o partido está pronto para a comparação de gestões nas eleições do ano que vem. Se o PSDB tiver candidato, se for o sr., o que o PSDB terá a apresentar de novo? Ou o foco vai ser na comparação?
Eu acho que comparação é inevitável e nem precisa da gente fazer. É incrível, eu recebo 300 mensagens de WhatsApp por dia de todos os cantos do Estado. Quem faz a comparação, quem fala do legado, do que fizemos e do que não está sendo feito, são as pessoas, vereadores, suplentes, prefeitos, ex-prefeitos, pessoas comuns, empresários. Não há necessidade de que nós façamos. Está já, em grande monta, no consciente ou no inconsciente das pessoas. Seja quem for o candidato e espero que tenhamos candidatos novos porque nós todos já temos muitos mandatos – eu, o atual governador, Iris Rezende, e outros. O ideal é termos oxigenação com candidaturas novas, que estão dando certo, de pessoas experientes. Acho que a visão tem de ser de futuro, como vamos encarar as tecnologias novas, a inovação, a pesquisa, as startups, o que vamos fazer por uma educação cada vez mais eficiente, saúde, segurança e serviços que atendam efetivamente os interesses coletivos. Quais são as plataformas tecnológicas novas que serão disponibilizadas ao povo? Temos uma desigualdade social enorme no Brasil e ficou fortemente mais grave com a pandemia. Como vamos lidar com a qualificação, com formação de mão-de-obra? Como vamos cuidar dessa questão do meio-ambiente, da sustentabilidade para valer? Qualquer que seja o candidato terá de ir a fundo em relação a práticas novas e mais modernas de gestão.
Acha que necessariamente o PSDB terá candidato ou pode apoiar nome de outro partido?
Espero que tenha, vou trabalhar por isso. O PSDB não tem de ter vergonha da sua história. O PSDB ajudou a construir belíssimas páginas da história de Goiás nos últimos 20 anos. O PSDB tem um legado de construção positivo, de modernização. O PSDB elevou a autoestima de Goiás no âmbito nacional e internacional. Então, temos toda uma história para contar e temos uma história nova para projetar. Não vai ser com políticas retrógradas, populistas, demagógicas que a gente vai chegar a esse futuro que esperamos.
Goiás está num momento de vácuo de lideranças políticas. O sr. ficou afastado e não decidiu se vai voltar no ano que vem, Iris Rezende se aposentou e Maguito Vilela morreu. O sr. vê atores políticos atualmente que têm condições de preencher este espaço?
Eu vejo, acompanho algumas movimentações. Não vou citar nomes. Quero ficar apenas no PSDB, em que o governador José Eliton é uma ótima opção, temos empresários muito bem sucedidos filiados ao partido, que têm excelente cabeça e poderiam contribuir, temos prefeitos de cidades importantes que poderiam nos representar, deputados que têm preparo. Não falta quem tem condições. Da minha parte, apesar do tempo sem dar entrevistas – e eu voltei a movimentar as redes sociais nos últimos meses-, apesar desse tempo todo de reflexão, com muita paciência, de introspecção, eu tenho, graças a Deus, a tranquilidade, para andar de cabeça erguida em qualquer canto do nosso Estado. E eu tenho feito isso, de forma anônima, discreta, humilde, às vezes dirigindo meu carro. A minha vida é completamente simplesmente, quem me vê sabe que, no máximo, quando faço uma viagem mais longa, ando com motorista, não tenho seguranças. Enfim, é uma vida tranquila. Eu ando de cabeça erguida porque eu combati o bom combate, e fiz isso com muito idealismo, com muito espírito público e com a melhor das boas intenções.
Toparia ser candidato a deputado federal?
É uma alternativa que já me sugeriram em reuniões do partido e eu cheguei a dizer que não fujo à luta, já me sugeriram como candidato a senador e governador. Acho que não é hora para essas coisas. Eu diria que não há nenhuma necessidade, nenhuma vaidade para que eu seja candidato a governador. Já fui quatro vezes, já dei a minha contribuição e sinceramente acho que o que mais posso fazer agora é estimular que forças novas, lideranças criativas, inteligentes, ativas, que tenham energia possam ocupar esse espaço.
Mas a outro cargo?
Eu não tenho uma decisão. Eu tenho espírito público e gosto de política. Política não é uma coisa que você inventa, é algo inato. Não deixa de ser um talento. A minha arte, o meu talento é este, então…
E em nível nacional, como o PSDB estará e o que diz do governo Bolsonaro?
O PSDB certamente terá candidato, como teve nas últimas décadas, desde a candidatura de Covas em 89. Temos quatro pré-candidatos e todos querem vir a Goiás conversar com os militantes. Teremos uma candidatura de centro e vamos tentar quebrar a polarização que existe hoje entre o presidente Bolsonaro e o ex-presidente Lula.
Mas qual nome o sr. defende no PSDB?
Eu não quero opinar. Tenho uma boa relação no partido, em que estou há mais de 26 anos. Acho que não é o momento adequado para dar opinião sobre as prévias. Todos são bons candidatos. Resta saber se vão conseguir empolgar, sensibilizar os eleitores e convencê-los de que o PSDB já teve uma boa história e será capaz de construir história melhor ainda para o País.
Se for mantida a polarização, apoia Bolsonaro ou Lula?
Vamos esperar chegar o segundo turno. Como trabalho no setor privado não gostaria de opinar sobre essas questões de forma antecipada.
Nem avalia a gestão Bolsonaro?
Não, não é adequado em função do trabalho que desempenho hoje.
O sr. citou os investimentos em hospitais no seu governo, mas uma deficiência do Estado ficou muito visível neste período de pandemia, que foi o fato de só haver UTIs públicas em Goiânia, Aparecida e Anápolis.
Em Águas Lindas, o hospital era municipal e estadualizamos em 2014 e recomeçamos a obra. A ideia era que fosse concluída e pudéssemos ter 30, 40 leitos de UTI. Tínhamos um convênio com o hospital São Pedro de Alcântara em Goiás, com 10 leitos que nós viabilizamos. Em 2011, também colocamos rapidamente pra funcionar o Hospital de Santa Helena. E isso não aconteceu em relação ao Hospital de Uruaçu, que estava pronto e equipado e tiraram equipamentos de lá.
Estava totalmente pronto e em condições de funcionar?
Totalmente. Faltavam poucos equipamentos. E a obrigação de quem sucede é finalizar, comprar o que falta. O Hospital do Servidor Público estava pronto e quase todo equipado, tanto é que serve como hospital de campanha. Mas tínhamos leitos de UTI na região metropolitana também, em Trindade, no Hutrin. Tinha toda uma programação de regionalização que foi feita. As Policlínicas que eram AMEs e depois viraram USEs, deixamos acho que seis prontas ou quase prontas.
O sr. citou o desenvolvimento industrial, mas o alto percentual de incentivos fiscais foi alvo de críticas do Tribunal de Contas do Estado e tem de ser reduzido por exigência do Tesouro Nacional para programas de ajuda financeira da União. Houve excesso?
Não houve excesso. Se nós não tivéssemos garantido a política de incentivos fiscais, e isso começou com Iris – aliás, começou com Leonino e depois Irapuan e o Iris criou o Fomentar e depois nós criamos o Produzir -, se não fossem esses programas de incentivos Goiás estaria ainda com uma economia completamente baseada no setor primário.
Mas não foi demais?
Não foi demais, foi o necessário. Depois que demos o start e começamos a crescer para valer, todos os outros Estados copiaram a gente, e aí começaram a crescer.
Mas Goiás foi o segundo com maior volume de renúncia.
Mas crescemos muito mais do que os outros. Isso dá competitividade aos Estados. O Brasil é muito desigual, com quase tudo concentrado em São Paulo. Se não tivéssemos sido agressivos e criado uma política consistente, com musculatura, Goiás estaria patinando ainda. Seria um Estado com pouquíssima visibilidade nacional e um Estado sem qualquer reconhecimento e importância.
Dois deputados estaduais do PSDB votaram com o governo pela PEC do Teto e pela adesão ao Regime de Recuperação Fiscal. Eles têm de ser punidos?
A orientação da Executiva foi dada, até porque queríamos preservar os interesses dos servidores e dos agentes públicos de Goiás para que o Estado possa ter dinamismo. Mas os agentes públicos geralmente preocupam muito com os interesses políticos e as eleições estão se aproximando, tem os cargos, as emendas. A gente tem de respeitar e acolher com humildade esse tipo de manifestação. Com certeza o partido vai avaliar. Mas a gente não pode fazer nada, o mandato é deles.
Se sente traído por atores políticos que mudaram de lado?
Tem muita gente que mantém lealdade ao projeto, ao ideal, ao legado, e eu recebo manifestações diversas todos os dias. E tem muita gente que é amigo do poder. É assim desde que o mundo é mundo. Então bola pra frente.
Parabéns governador. Aqui no Nordeste goiano temos o “antes do Marcone e o depois do Marcone “.PSDB👏👏👏👏👏