Aponta matéria analitica divulgada pelo jornal Opção neste domingo.
Arruda já articula base para Flávia Arruda disputar o governo do Distrito Federal?
Com quase 3 milhões de habitantes, Brasília é uma cidade-Estado. Parte de seus eleitores mora no Entorno do Distrito Federal, em municípios como Luziânia, Planaltina, Novo Gama, Valparaíso e, entre outras, Águas Lindas. No fundo, a capital e o Entorno, irmanados, são uma coisa só. Por causa do alto custo de moradia na cidade criada por Juscelino Kubitschek — tanto para alugar quanto para comprar —, milhares de pessoas decidem morar nas cidades acopladas (até o prefixo do telefone é 61, o da cidade de Lucio Costa e Oscar Niemeyer). Muitas delas trabalham em Brasília e, às vezes, lá votam, estudam e buscam atendimento de saúde em sua rede hospitalar.
Quando governador do Distrito Federal, o engenheiro José Roberto Arruda tinha um projeto para valorizar o Entorno de Brasília — inclusive com apoio à construção de moradias e instalação de empresas. Embora tenha sido afastado do governo, sob acusação de corrupção, até hoje é avaliado como um gestor eficiente, e por isso é popular. De repente, depois de um tempo sumido, Arruda voltou a articular em alguns municípios da região — dialogando com prefeitos e lideranças locais. Por que, se não vai disputar mandato em 2022, o ex-governador está se dando ao trabalho de reabrir diálogo com políticos do Entorno?
O governador do DF, Ibaneis Rocha, do MDB, tem dito a aliados que a mulher de Arruda, a deputada federal licenciada e ministra-secretária de Governo da gestão de Jair Bolsonaro Flávia Arruda (PL), será candidata a vice ou a senadora na sua chapa. (Flávia Arruda, por sinal, abriu a portas de seu gabinete para políticos de Brasília e do Entorno.)
Não é improvável que Flávia Arruda (Flávia Carolina Peres), de 41 anos, possa disputar mandato de senadora ou figurar na chapa de Ibaneis como vice. Se for a vice, em 2026 tende a assumir o governo, em abril, se o governador se desincompatibilizar para disputar mandato de senador. Aí ela seria candidata à reeleição. Mas, claro, Ibaneis precisa primeiro ser eleito, o que não será fácil.
Mas políticos experimentados não gostam muito de projetos distantes, porque sabem que a política muda muito, às vezes rapidamente. Depois, a popularidade de Ibaneis está em baixa, dado ao seu caráter errático de governar, seguindo o estilo de Bolsonaro. “Parece que Ibaneis só fica feliz se, como Bolsonaro, arranjar uma briga por semana. Midiático, ele gosta do conflito, sem entender que quem ocupa cargo executivo deve agregar e concentrar esforços na gestão”, assinala um político brasiliense.
Ante o desgaste de Ibaneis — nem Bolsonaro estaria tão interessado no seu passe político —, Flávia Arruda vai se tornar “oxigênio” para salvá-lo da debacle? É provável que não. No momento, tanto Flávia Arruda quando Arruda têm estruturas que dependem, de alguma maneira, do governo do emedebista. Portanto, não se falará em rompimento agora.
Entretanto, como são experts em política, Flávia Arruda e Arruda estão trabalhando na estruturação de uma base à parte da de Ibaneis. Quer dizer, não deixaram de jogar com o governador, mas estão armando um jogo alternativo, sem Ibaneis. Por quê?
Porque se Ibaneis naufragar — Brasília costuma descartar reeleição de governadores, exceto Joaquim Roriz —, será preciso propor uma alternativa. Quem estiver preparado, com uma estrutura sólida, certamente poderá ocupar o espaço político de Ibaneis. Flávia Arruda poderá ser candidata, então, a governadora — e com o apoio inclusive de Bolsonaro, que tem estima pela auxiliar tanto por sua franqueza quanto pela capacidade de operação política.
A senadora Leila Gomes de Barros Rêgo, a Leila do Vôlei, de 49 anos, é filiada ao PSB, mas pode trocá-lo pelo Cidadania. Em 2018, foi a primeira colocada para o Senado, com 467.787 votos (17,76%), deixando em segundo lugar, também eleito, o senador Izalci Lucas, do PSDB, com 403.735 (15,33%).
Leila do Vôlei planeja disputar o governo e continua tão popular quanto em 2018, com a vantagem de ter se tornado mais conhecida. É vista como uma senadora que não envergonha Brasília. Porque há uma tradição na capital nacional de políticos que usam o mandato para fazer negócios. A senadora, pelo contrário, é decente.
Se dobrar com o senador José Antônio Reguffe, do Podemos — também popular e da turma decente —, Leila do Vôlei pode se tornar uma candidata consistente. Frise-se que uma disputa para o governo não é equivalente a uma disputa para governador. O postulante precisa de uma estrutura maior e agregar mais apoio.
Izalci Lucas opera para ser candidato a governador, como o anti-Ibaneis. Tanto que, na CPI da Covid-442 mil, o senador discute basicamente a corrupção na saúde do governo do Distrito Federal. Ibaneis tenta fingir que não é com ele, mas o que Izalci Lucas tem mostrado — inclusive o secretário da Saúde foi preso — é que, de fato, houve corrupção no governo do emedebista.
O senador é articulado e, na campanha, tende a ser o grande “calo” no pé de Ibaneis. Vai, certamente, bater sem parar — o que beneficiará a si e a Leila do Vôlei. E, talvez, a Flávia Arruda.
Experts em política de Brasília dizem o seguinte: Ibaneis tende a sair na frente, por causa da estrutura — é milionário e dirige uma máquina poderosa —, mas a tendência é que se desidrate passo a passo. Até porque deixa a impressão de que está no governo, mas não governa. Dentro da própria gestão, há auxiliares que dizem que Ibaneis terceirizou o governo para alguns espertalhões. Porque, até o momento, não se sabe. O que se sabe, segundo algumas pesquisas qualitativas, é que Ibaneis está, ao menos até o momento, decepcionando os eleitores de Brasília, que, politizados, tendem a dar o troco em outubro de 2022, possivelmente retirando-o do poder e devolvendo-o à advocacia.
Há quem aposte que Ibaneis vai ser o segundo ou terceiro colocado na disputa eleitoral do próximo ano. (Fonte:www.jornalopcao.com.br)
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