O avanço da vacinação contra a Covid levou vários países a dispensar o uso de máscaras. Mas foi por pouco tempo: a variante delta do coronavírus forçou um recuo, e o equipamento de proteção pessoal voltou a ser obrigatório em diversos lugares.
No Brasil, de acordo com especialistas ouvidos pela Folha, não há como ser diferente. Eles afirmam que será possível pensar em deixar as máscaras de lado somente quando a maioria da população estiver totalmente imunizada. Ou seja, quando parcela expressiva dos brasileiros tiver recebido as duas doses da vacina contra o coronavírus (ou dose única da Janssen).
“Pelos conhecimentos atuais, é impossível pensar em tirar a máscara até que se alcance a imunidade coletiva”, afirma Leonardo Weissmann, consultor da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas. “É insanidade pensar nessa possibilidade no cenário atual.” Para alcançar um cenário sem necessidade de máscara, estima-se que seja necessário alcançar mais de 75% ou 80% de toda a população totalmente protegida, diz Rosana Richtmann, também médica infectologista do Emílio Ribas. Alguns especialistas projetam patamares ainda mais elevados, devido à facillidade com que a variante delta salta de uma pessoa para outra, inclusive entre pessoas vacinadas.
A experiência internacional mostra que a retirada da obrigatoriedade de uso de máscaras —mesmo em situações de imunização relativamente avançadas, pode não ser uma boa ideia.
Em Israel, um dos países com a vacinação mais avançada, a máscara tinha sido abandonada como necessidade para locais públicos fechados. O aumento das contaminações pela variante delta, que é mais transmissível, fez o governo israelense retroceder e reimplantar a obrigatoriedade da proteção facial. O exemplo e os dados mais recentes sobre o assunto vêm dos EUA. As entidades de saúde americanas afrouxaram a necessidade de máscaras no país, o que foi criticado por especialistas, e expandiram as aberturas. Já há até um festival de música com a presença de público, o Lollapalooza, ocorrendo em Chicago.
Agora, os CDC (Centros de Controle de Doenças) voltaram a recomendar o uso da máscara mesmo entre pessoas vacinadas, em áreas com elevada transmissão da doença.
Isso ocorre num momento em que a campanha de vacinação americana não avança depressa e as contaminações e internações, especialmente entre não vacinados, aumentam de forma significativa. A situação levou o governo americano a agir para incentivar, inclusive com dinheiro, que as pessoas se vacinem.
“A gente ainda vai usar máscara por um tempo. Por quanto tempo, não sabemos, porque depende de muitas variáveis. Estamos em um cenário de incerteza”, diz Ethel Maciel, epidemiologista e professora da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo).
A variante delta pode ter um papel importante nessa equação, apesar de máscaras, distanciamento e vacinas continuarem sendo as únicas certezas de proteção da pandemia, independentemente da cepa do Sars-CoV-2.
Dados do CDC divulgados nesta sexta (30) mostram que pessoas totalmente vacinadas contra a Covid, caso sejam contaminadas pela variante delta, podem espalhar o vírus tão facilmente quanto não vacinados. A informação é baseada em um evento documentado em Provincetown, no estado de Massachusetts, nos EUA, em confraternizações em comemoração ao 4 de julho, dia da independência americana.
Um outro documento interno do CDC, segundo o jornal The New York Times, aponta ainda que a agência deva reconhecer que “a guerra mudou” devido à variante delta e que deveria ser recomendado o uso de máscaras por todas as pessoas, independentemente da situação epidemiológica local. (as informações são da Folha)
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