sábado , 23 novembro 2024
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Setembro amarelo: a valorização da saúde mental entre crianças e adolescentes

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Campanha joga luz sobre a importância de zelar pela saúde mental; educadores, mantenedores, escolas e familiares são protagonistas em identificar problemas e orientar os mais jovens sobre o tema

Em 1994, o pai e a mãe do jovem americano Mike Emme, vítima da depressão aos 17 anos, iniciaram um trabalho de conscientização sobre saúde mental usando o laço amarelo, que era a cor do carro do filho, como símbolo dessa luta. É crucial pensar que pode haver um Mike, sofrendo de algo semelhante, bem perto de nós. Na sala de aula, no escritório, em nossa família, no círculo de amigos.

Quase três décadas depois – e com uma pandemia global em um vislumbre de acabar –, diversas mazelas socioemocionais ainda persistem, afetando diretamente o bem-estar de indivíduos nos mais variados contextos, sem restrição de faixa etária, língua, credo ou classe social. De acordo com o estudo The State of the World’s Children 2021, do Unicef, 22% dos adolescentes brasileiros entrevistados recentemente disseram que, muitas vezes, se sentem deprimidos ou têm pouco interesse de desempenhar suas atividades.

Tais sintomas devem ser observados de perto por educadores, mantenedores, gestores e profissionais de saúde mental, uma vez que muitos desses indivíduos em situação de apuro emocional podem não enxergar a dimensão das adversidades. E um olhar externo pode ser bem preciso, além de proporcionar um acolhimento mais sensível e empático. 

Saúde mental e os vestibulares

O processo de preparação para o vestibular pode ser muito cansativo, seja pelas longas horas dedicadas ao estudo, ou até mesmo pelas frustrações que podem surgir a partir de dificuldades com alguns conteúdos. É um momento no qual os estudantes lidam com pressões externas (de familiares e colegas) e internas, como cobranças por melhores resultados e aprovações.

“Todas essas coisas podem levar o estudante a deixar de lado o cuidado com a saúde, seja ela física ou mental. Mas não podemos nos esquecer de que precisamos de equilíbrio em todos os momentos da vida e na preparação para o vestibular isso não é diferente”, afirma a psicóloga  Mayra Temperine. Segundo a profissional, a manutenção de exercícios físicos, boa alimentação, boa noite de sono, momentos de lazer e cuidados com a saúde contribuem para um aprendizado de qualidade, eficiente memorização dos conteúdos e manutenção da atenção e concentração.

Um “lar” na escola

Criar um ambiente de confiança e suporte, em que as dificuldades e sentimentos possam ser expostos com naturalidade, ajuda familiares e educadores a perceber com mais facilidade os sinais de alerta e agir rapidamente. “Assim como a atividade física auxilia a prevenção de uma série de doenças, desenvolver habilidades socioemocionais, desde cedo, ajuda a reconhecer e modular as emoções, o que é um poderoso instrumento de perceber o mundo e se relacionar com ele. A ciência comprova que as medições dessas competências na escola podem contribuir muito para as decisões pedagógicas e, por sua vez, incentivar os alunos a desenvolver respostas mais apropriadas às adversidades, por meio do fortalecimento da resiliência e outros aspectos comportamentais que os auxiliarão a enfrentar obstáculos e buscar realização na vida pessoal, acadêmica, profissional e social”, aponta o médico psiquiatra e fundador do programa Semente, Celso Lopes de Souza.

Cyberbullying: como lidar com a modalidade virtual em sala de aula

Comentários pejorativos, ameaças, mensagens ofensivas e qualquer outro tipo de agressão encontram, na internet, um ambiente amplo e difícil de ser monitorado. Com o avanço da tecnologia e o uso constante das redes sociais, o bullying se expandiu para o ambiente virtual e recebeu uma nova denominação: cyberbullying. A orientadora educacional Bianca Ventura afirma que é importante não naturalizar determinados comportamentos agressivos, colocando nas mãos de cada um e do grupo como um todo a “desromantização” dessas situações. “Criar um ambiente que repudie atitudes violentas é essencial. Acredito que essa perspectiva seja a mais eficiente para interromper o bullying e para minar grupos que atuam como cúmplices dos agressores”, explica.

Competências socioemocionais

Bullying, solidão, depressão e baixa autoestima fazem parte do dia a dia de muitos jovens na escola. Todos esses pontos estão conectados com a campanha Setembro Amarelo, iniciada no Brasil em 2015, em busca da valorização da vida. Apesar de iniciativas que promovam o debate, muitas vezes não há espaço, e principalmente ferramentas, para lidar com isso. Os aparatos para encarar o mundo, especificamente em fases como infância, pré-adolescência e adolescência, são escassos.

Nesse sentido, Leticia Lyle, diretora da Camino School e cofundadora da Camino Education e da Cloe, passou estudar o desenvolvimento de competências socioemocionais, criando programas em escolas públicas e privadas, projetos de formação de professores, e adaptando currículos e materiais didáticos. Ao inserir em seu programa pedagógico as competências socioemocionais, as escolas trataram de ajudar no fortalecimento emocional dos jovens, desenvolvendo um melhor equilíbrio. “Cada uma das experiências que vivi evidenciou a importância dessas competências e do quanto são essenciais para o processo de ensino e aprendizagem – e para o desenvolvimento humano de adultos responsáveis, professores e estudantes”, destaca.

Retomada presencial x impactos do isolamento

Há que se admitir: ninguém foi preparado para o distanciamento social. Aprendeu-se a lidar com essa nova realidade a partir de 2020. Da mesma forma, pode parecer uma questão superada, mas as pessoas também estão aprendendo com o retorno ao presencial. “Para além da retomada da rotina de conteúdos e estudos, muitos alunos ainda não se readaptaram e enfrentam novas dificuldades, como a ansiedade, a depressão e, inclusive, o luto. E não podemos ignorar que os educadores e familiares também estão passando por um período igualmente complicado. Por isso, é importante que a escola adote uma metodologia que possibilite um olhar mais sensível, que desenvolva com crianças e adolescentes competências e habilidades socioemocionais necessárias para que lidem com problemas ao longo da vida. Esse desenvolvimento também é um momento de reflexão para os próprios professores e adultos responsáveis”, salienta Aline Castro, diretora pedagógica do Sistema de Ensino pH. 

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