sábado , 23 novembro 2024
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Primeira audiência da morte de João Pedro Mattos acontece dois anos depois do crime

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Parentes e amigos farão ato pacífico no Fórum de São Gonçalo com apoio da Change.org e participação do Rio de Paz

“Nós, familiares de vítimas do estado, morremos antes da justiça acontecer. Infelizmente”. O desabafo é de Rafaela Matos, sobre a demora da primeira audiência do caso de seu filho, João Pedro Mattos, que acontece mais de dois anos depois do assassinato do adolescente em 18 de maio de 2020. A sessão será nesta segunda-feira, dia 5 de setembro, às 13h, no Fórum do Colubandê, em São Gonçalo.

João foi morto em uma operação das polícias Civil e Federal, no complexo de favelas do Salgueiro, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro. Ele, à época com 14 anos, e outras crianças brincavam  numa casa que foi metralhada pelos agentes. O corpo de João ainda foi retirado do local pelos policiais, ficou desaparecido e só foi encontrado horas depois pela família no Instituto Médico-Legal de São Gonçalo. 

Com camisas demandando por justiça para João Pedro e cartazes, a família e amigos do adolescente farão um ato pacífico em frente ao fórum pedindo justiça e celeridade no processo. A manifestação tem apoio da Change.org., que hospeda a petição “Justiça por João Pedro”(change.org/JusticaJoaoPedro), que conta com mais de três milhões de assinaturas em apoio ao caso. O Rio de Paz participará da manifestação.

A petição foi criada nos Estados Unidos e viralizou no Brasil uma semana depois do crime, quando a atriz americana Viola Davis compartilhou no Twitter como reflexo dos protestos decorrentes da morte de George Floyd e a petição “Justiça por João Pedro” também passou a fazer parte do movimento Vidas Negras, que concentra em um hotsite https://vidasnegrasimportam.changebrasil.org/ da plataforma Change.org mais de 90 abaixo-assinados e 4,8 milhões de apoiadores em torno que pautas que buscam justiça racial. 

“A petição demonstra o apelo da sociedade civil organizada e também é um sinal de que a família de João Pedro não está sozinha nesta luta. São mais de três milhões de pessoas pedindo que a justiça seja feita, e essa primeira audiência, apesar de acontecer mais de dois anos depois do assassinato, é um grande passo para o caso”, diz Débora Pinho, gerente de campanhas da Change.org.

Para João Luís Silva, articulador social do Rio de Paz, o caso de João Pedro faz parte de uma justiça seletiva que existe no Brasil.

“Vivemos isso porque existe uma seletividade na justiça criminal. Talvez, se João Pedro fosse uma criança da zona sul (do Rio) e branca, os culpados já teriam sido punidos. Mesmo assim, a gente sente que a justiça pode ser feita nesse caso porque ainda tem muitas famílias que não conseguiram o mesmo e ainda choram a morte de suas crianças sem justiça”, lamenta João Luís Silva, articulador social do Rio de Paz, que esteve na casa onde João Pedro foi morto logo depois com o coordenador de projetos da ONG, Lucas Louback.

“Contamos mais de 70 marcas de tiros nas paredes da casa, um cenário de muita tristeza e covardia. O que encontramos foi um cenário de horror”, lembra João.

POLICIAIS DENUNCIADOS

“Esses dois anos têm sido os piores da minha vida e da minha família. Além do luto, ainda ter que ficar na luta por justiça vai consumindo a gente aos poucos”, disse Rafaela, emocionada. “A verdade é que a justiça não acontece para os pobres. Mas nós temos esperança. Mesmo depois de tanto tempo essa audiência é um grande passo porque não precisamos provar a inocência do nosso filho. O próprio governo a reconheceu”, diz Rafaela, resignada. 

Os policiais civis Mauro José Gonçalves, Maxwell Gomes Pereira e Fernando de Brito Meister foram denunciados pelo Ministério Público por homicídio duplamente qualificado e fraude processual. Eles podem ir a júri popular.

“Há uma morosidade na justiça criminal, principalmente, para tratar de casos de execução, ainda mais quando são praticadas pelo estado. Parece uma estratégia para que as investigações sejam prejudicadas. É um absurdo que essa polícia seja julgada dois anos após o crime e com toda repercussão e gravidade que teve o caso”, analisa João Luís Silva, articulador social do Rio de Paz.

CRIANÇAS MORTAS POR BALAS PERDIDAS

O Rio de Paz tem um memorial na Lagoa, zona sul do Rio, pelas crianças e adolescentes de 0 a 14 anos mortas por balas perdidas e policiais assassinados pela violência no estado. A contagem começou em 2007 e já reúne quase 90 crianças. O nome de João Pedro está no memorial. Em 2020, ano em que foi morto, além de João, outras 11 crianças também tiveram suas vidas interrompidas por tiros. Depois de João, 22 crianças foram assassinadas dessa forma. 

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