No ano passado, mais de 120 indústrias de defesa israelenses assinaram centenas de contratos de defesa significativos em todo o mundo, incluindo mega acordos de centenas de milhões de dólares.
Há uma década, Israel vendia metade dos valores em comparação ao período atual. Mas, desde então, o país do Oriente Médio emergiu como um participante significativo no comércio global de armas, ganhando manchetes internacionais, nem sempre positivas.
Dois fatores explicam a demanda por armas de fabricação israelense em 2022: a invasão da Ucrânia e suas consequências na Europa, além do interesse dos países árabes, que normalizaram o relacionamento com Israel.
Segundo o Ministério da Defesa do país, 30% dos clientes, em 2022, foram países da Ásia e da região do Pacífico, quase o mesmo percentual da Europa, com 29%. A América do Norte comprou 11% dos armamentos israelenses e a América Latina, 3%.
Mas, a maior surpresa é o fato de 24% das armas terem sido compradas por países-membros dos Acordos de Abraão, assinados em 2020, que normalizaram as relações diplomáticas entre Israel e Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Marrocos. Só os negócios com esses três países totalizaram US$ 3 bilhões. Para se ter uma ideia do aumento, em 2021, esse grupo representou apenas 7% das vendas.
Quanto aos principais produtos, um quarto dos acordos se refere a drones e veículos aéreos não tripulados, ou VANTs. Mísseis, foguetes e sistemas de defesa aérea totalizaram 19% das exportações; radares e sistemas de guerra eletrônica representaram 13%.
Inteligência cibernética
Outro dado curioso: embora Israel seja bem conhecido pelos sistemas de inteligência cibernética, eles representaram apenas 6% de todas as vendas em 2022. As vendas israelenses dessa tecnologia estão sob os holofotes mundiais por causa das alegações de que foram usadas, em alguns países, para espionar dissidentes políticos e jornalistas.
Há muitos motivos para o sucesso de Israel nessa área. Sendo uma nação que enfrenta conflitos desde sua criação, há 75 anos, o país investe muito em autodefesa e na inovação tecnológica. Israel tem uma cultura de inovação, uma força de trabalho altamente qualificada e uma estreita cooperação entre militares, acadêmicos e setor privado.
Fora isso, as exportações de armamentos são importantes para Israel não apenas para impulsionar a economia. Elas também desempenham um papel crucial na construção de alianças estratégicas e relações diplomáticas.
O governo israelense tem buscado ativamente parcerias com nações amigas, oferecendo ajuda militar, programas de treinamento conjuntos e colaborações tecnológicas.
Críticos dessas negociações, no entanto, argumentam que as armas israelenses podem chegar às zonas de conflito complexas, exacerbando as tensões e alimentando a violência. Em particular, as vendas de armas de Israel para países do Oriente Médio, que podem contribuir para a corrida armamentista na região que já está em vigor por causa das ambições nucleares do Irã.
Acordo com Alemanha
Ao que parece, a tendência de alta na exportação de armas por Israel vai continuar em 2023. Um dos acordos já anunciados é com a Alemanha. Na semana passada, o Ministério da Defesa alemão e os Comitês de Orçamento e Defesa do Bundestag aprovaram a aquisição do sistema de defesa antiaérea israelense Arrow-3. O valor do acordo gira em torno dos 4 bilhões de euros.
Israel e Alemanha começaram a negociar o acordo em 2020, mas as conversas só se concretizaram nos últimos meses, impulsionadas pela guerra na Ucrânia.
Não há como ignorar a ironia desta situação. Há menos de um século, a Alemanha perseguia judeus, o que culminou no Holocausto nazista. Hoje, o país europeu compra armas do único Estado de maioria judaica do mundo. Mas a Alemanha não é a única nação europeia a buscar armamento de Israel. A Finlândia, a Holanda e a Estônia já anunciaram outros acordos, este ano. (fonte: www.rfi.fr)
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