A China realizou neste sábado (19) manobras militares em torno de Taiwan como um “severo aviso”, segundo a mídia estatal, após uma escala do vice-presidente da ilha e candidato nas eleições presidenciais, nos Estados Unidos. William Lai, favorito na corrida eleitoral de Taiwan no próximo ano e opositor declarado das reivindicações de Pequim sobre a ilha, voltou na sexta-feira (18) de uma viagem ao Paraguai, durante a qual passou por Nova York e São Francisco.
A China reagiu com raiva a essas escalas nos EUA e reafirmou neste sábado que Lai era um “encrenqueiro”, prometendo “severas advertências ao conluio dos ‘separatistas de Taiwan’ com elementos estrangeiros e suas provocações”.
“O Comando da Área Leste do Exército de Libertação Popular chinês lançou neste sábado (19) patrulhas aéreas e marítimas conjuntas, além de exercícios militares da marinha e da força aérea ao redor da ilha de Taiwan”, disse a agência oficial de notícias da China, citando o porta-voz do exército, Shi Yi.
Taiwan disse ter detectado 42 incursões de aeronaves militares chinesas em sua zona de defesa aérea na manhã de sábado, acrescentando que oito navios chineses também participaram das manobras.
Entre essas incursões, 26 aviões de guerra cruzaram a linha central do Estreito de Taiwan, informou o Ministério da Defesa da ilha em comunicado.
Segundo a agência oficial, estas manobras visam testar a capacidade dos navios e aviões chineses “para assumir o controle de espaços aéreos e marítimos” e para combater “em condições reais”.
Um vídeo postado na mídia social pelos militares chineses no sábado mostra soldados em uniformes correndo por uma instalação militar e caças voando acima das nuvens ao som da música.
Taiwan condenou veementemente “este comportamento irracional e provocativo” e prometeu enviar “forças apropriadas para responder a ele (…) a fim de defender a liberdade, a democracia e a soberania de Taiwan”.
O Ministério da Defesa taiwanês, por sua vez, declarou que vai “realizar um exercício militar (…) sob um falso pretexto não só não contribui para a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan, mas também destaca a mentalidade militarista da China”.
“Vizinhos tiranos”
Washington havia pedido calma sobre a viagem de Lai, que segundo as autoridades taiwanesas estava apenas “transitando” por solo americano antes de seguir para o Paraguai para a posse do presidente eleito Santiago Peña.
Mas ainda no sábado, um funcionário do escritório do Partido Comunista Chinês encarregado das questões de Taiwan “condenou veementemente” a viagem de Lai, chamando-a de “mais uma provocação” para “fortalecer o conluio com os Estados Unidos”, segundo a imprensa.
“A última ‘parada’ de Lai foi um disfarce que ele usou para vender os interesses de Taiwan para garantir ganhos nas eleições locais por meio de manobras desonestas”, disse o funcionário, segundo o mesmo artigo.
A China se opõe a qualquer contato oficial entre os países ocidentais e Taiwan, que considera uma de suas províncias. William Lai recebeu a indicação do Partido Democrático Progressista (DPP) para concorrer à presidência em janeiro de 2024 e suceder ao presidente Tsai Ing-wen, cujo segundo mandato terminará então.
Neste sábado, o ministro das Relações Exteriores de Taiwan acusou a China de tentar “instrumentalizar” as eleições de 2024 em Taiwan. “A RPC deixou claro que quer influenciar as próximas eleições nacionais em Taiwan”, disse Joseph Wu, usando a sigla do nome oficial da China, no X (ex-Twitter).
“Cabe aos nossos cidadãos decidirem, não ao nosso vizinho tirânico”, disse ele. As relações Pequim-Taipei azedaram em 2016 com a chegada de Tsai Ing-wen como presidente, com Pequim intensificando a pressão política e militar sobre o arquipélago nos últimos anos. (Com AFP)
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