Em quase uma década, o Brasil contabilizou 1.756 óbitos e prejuízos financeiros da ordem de quase 100 bilhões de reais, em decorrência de chuvas em excesso. Pelo menos é o que revela um estudo da Confederação Nacional de Municípios (CNM), que apurou junto ao Sistema Integrado de Informações Sobre Desastres do Ministério do Desenvolvimento Regional (S2ID/MDR) dados sobre fenômenos climáticos intensos registrados no período entre janeiro de 2013 a maio de 2022.
E infelizmente a situação deve se repetir entre o fim deste ano e o começo de 2024, conforme apontam previsões climáticas do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), que indicam que neste período o nível das chuvas deve ficar próximo ou acima da média nas regiões Norte, Sudeste e Centro-Oeste. E tais mudanças climáticas têm levado algumas construtoras e incorporadoras a adotarem em seus projetos soluções ambientais para a drenagem das águas pluviais.
Um destes recursos são os swales, que são valas cavadas no solo para direcionar, coletar e infiltrar as águas pluviais, obedecendo as curvas de nível. A solução simples nasceu na agricultura e tem um resultado importante quando se fala na absorção das águas das chuvas.
“Os swales são uma técnica usada pelo pesquisador australiano Bill Molison, que desde 1981 vem promovendo a prática da permacultura, que nós transferimos para o urbanismo. É uma medida relevante para as ocupações urbanas, uma vez que as cidades precisam de mais permeabilidade no solo. A natureza agradece e para nós é um motivo de alegria e orgulho podemos fazer parte desta construção tão importante para humanidade”, diz a arquiteta Luci Costa.
Luci é arquiteta e sócia da Tropical Urbanismo empresa com 46 anos de história, que vem adotado este recurso em seus projetos há vários anos. Além do recém-lançado Aldeia Santerê, a solução também foi adotada em projetos como a Ecovila Santa Branca, condomínio residencial também situado em Terezópolis de Goiás, no Aldeia da Serra e o Aldeia dos Sonhos, ambos em Hidrolândia; e no Escarpas Ecopark, condomínio ecológico localizado no município de Abadiânia.
“É um sistema ecologicamente correto pois, junto a eles, criamos áreas de plantio na maioria dos terrenos que normalmente são áridos e degradados, e os reflorestamos com florestas nativas da região e árvores frutíferas para a população dos condomínios”, complementa.
O mais recente projeto da marca com os swales é o condomínio horizontal Aldeia Santerê Casa e Natureza. O empreendimento terá 110 mil metros de swales, que são valas de captação com a função de absorver as águas das chuvas para direcioná-las ao lençol freático, evitando assim que escorra para a reserva do João Leite – distante 1.100 metros do condomínio horizontal.
Mais sustentabilidadeNo Aldeia Santerê, os swales serão implantados nos fundos dos lotes, obedecendo as curvas de nível. Junto a eles, haverá um pomar com largura de 15 metros, formando verdadeiras artérias verdes. Os moradores poderão escolher as frutas de sua preferência que desejam ter no fundo de suas casas. O empreendimento irá desenvolver o projeto de plantio e entregará 20 mil mudas para o condomínio, que receberá também os insumos e equipamentos necessários para o manejo do pomar.
A arquiteta Andrea Accioly, que também assina o projeto do Santerê, explica que esta vegetação potencializa a captação dos swales em sua função de fazer a drenagem, uma vez que as raízes tornam o solo mais aerado e, ao mesmo tempo, previne as erosões.
Mas os benefícios não param por aí. ”Quem não gostaria de ter um pomar no fundo do lote? Então a gente já aproveitou essa ideia e fez o plantio de espécies nativas, o que ajuda na conservação e na manutenção da biodiversidade e da fauna nativa”, explica Andrea.
Andrea lembra que o projeto do Santerê Casa e Natureza tem outros atributos sustentáveis, sendo uma demonstração de que é possível promover a ocupação sustentável de espaços verdes. “É possível construir de maneira consciente, mantendo a preservação dos recursos naturais e o conforto e segurança dos moradores”, arremata.
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