A Fundação Nacional de Artes – Funarte, em parceria com a Escola de Música da UFRJ, realiza a 25ª Bienal de Música Brasileira Contemporânea, de 11 a 16 de dezembro, no Rio de Janeiro. A programação, que vai ocupar a Sala Cecília Meireles, o Teatro Dulcina e a Sala Funarte Sidney Miller, reúne 56 obras. O preço dos ingressos é R$ 10 (meia 5).
Realizada sem interrupção desde 1975, a Bienal da Funarte é um dos mais tradicionais e representativos eventos da música de concerto no cenário brasileiro. Uma tradição que está sempre em movimento, pois uma das principais características da Bienal é a inovação. Nesta edição, o conjunto de compositores participantes é bem diverso: há mais pessoas negras, mais mulheres e 27 autores estão participando do evento pela primeira vez. “Isso não acontece por acaso. No edital do concurso, incluímos dispositivos para garantir certas presenças. O aumento do número de mulheres, ainda tímido, resulta dessa política afirmativa. Outra regra do edital foi a seleção de obras de compositores de todas as regiões do país”, explica Eulícia Esteves, diretora de Música da Funarte.
Na premiação que antecedeu a mostra, 54 obras foram selecionadas, sendo 25 inéditas (duas delas serão apresentadas na temporada da OPES, no ano que vem). A primeira colocada na categoria para formações até quarteto foi “Lotus, para violoncelista e sua voz”, da compositora Juno Carreño, que será executada pelo solista Pablo de Sá. Nela, o violoncelista encontra o desafio da utilização constante da voz de duas formas: a primeira como uma extensão do instrumento, imitando, harmonizando e timbrando com ele e a segunda como recurso do personagem narrador, que dá voz às citações dos poetas Valério Pereliéchin e Fernando Pessoa e à própria mulher transexual Carreño, criadora da obra.
Como de costume, a programação também nos traz obras de compositores homenageados – mestres e mestras que dedicaram suas trajetórias à música de concerto contemporânea, abrindo caminhos e inspirando as gerações seguintes. Nesta edição, os homenageados são Aylton Escobar, Edino Krieger (in memoriam), Jorge Antunes e Marisa Rezende.
Jorge Antunes nos apresenta uma obra inédita, a abertura da Ópera Marielle. Nela, o compositor faz um resumo musical dos principais momentos da ópera, os temas de Marielle, dos militantes, do Funk, da favela, entre outros. A obra de Aylton Escobar será “Leminski: quatro dizeres e uma sombra, para barítono e piano”, com texto de Paulo Leminski. De Marisa Rezende, o público poderá conferir “Devaneio, para orquestra de câmara”, de 2022. Edino Krieger, fundador da Bienal, falecido no ano passado, será homenageado com a execução da sua “Fantasia Cromática e Fuga”, de 2013.
Aos 79 anos, Marisa Rezende, uma das grandes referências da música contemporânea no Brasil, revelou-se muito honrada com a homenagem, por ser um reconhecimento do campo para o qual dedicou toda uma carreira. Compositora, pianista e pesquisadora, fez seus estudos de pós-graduação na Universidade da Califórnia e foi Professora Titular de Composição da Escola de Música da UFRJ. Pioneira, Marisa conseguiu vencer muitos dos desafios impostos às mulheres compositoras de seu tempo: “o crivo de severidade é ainda maior diante de obras de artistas mulheres”, disse, certa vez, em entrevista à revista do FMCB (Festival de Música Contemporânea Brasileira).
As obras para orquestras de cordas serão apresentadas pela Orquestra de Cordas de Volta Redonda, sob a regência da renomada maestra Sarah Higino. As obras para orquestra sinfônica serão divididas entre a Orquestra Petrobras Sinfônica, sob a batuta da também experiente maestra Cinthia Alireti, e a Orquestra Sinfônica de Barra Mansa, regida pelo maestro Anderson Alves. O programa também conta com a participação dos grupos Abstrai Ensemble, Quarteto Suassuna, Madrigal Contemporâneo e de notáveis solistas, como Kátia Balloussier (piano), Tomaz Soares (violino), além de Paulo de Sá (violoncelo).
A Bienal se mantém como lugar de experimentação, de provocações artísticas e de apontamentos de novos caminhos estéticos e sonoros. Também se reafirma na mobilização de um segmento musical que necessita de espaços de difusão.
O programa divide-se em sete concertos. As apresentações orquestrais ocorrem na Sala Cecília Meireles (Lapa), nos dias 11, 12 e 16/12. As obras de câmara serão executadas no Teatro Dulcina (Cinelândia), nos dias 13, 14 e 15/12. As peças eletroacústicas, na Sala Funarte Sidney Miller, no Edifício Gustavo Capanema, no dia 14/12. Haverá transmissão ao vivo pelos canais de vídeo youtube.com/funarte e youtube.com/artedetodagente.
A Bienal
Por meio das bienais de música brasileira contemporânea, a Funarte estimula a criação de música de concerto no Brasil, contribui para a sua difusão e popularização, além de valorizar a sua diversidade. A Bienal já contou com a participação de mais de 500 compositores e possibilitou a execução de cerca de 1.900 obras, sendo mais de mil delas em primeira audição. É um evento consolidado no calendário artístico-cultural do país e sua realização é aguardada, nos anos ímpares, por todo o campo da música de concerto.
O evento está em convergência com os objetivos e estratégias do Plano Nacional de Cultura, entre eles o “fomento à produção artística e cultural brasileira”. Converge também com os objetivos da Funarte: promover, incentivar e amparar, em todo o país, a prática, o desenvolvimento e a difusão das atividades artísticas e culturais.
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