sábado , 23 novembro 2024
JustiçaPolítica

“Apenas cumpriu-se a legislação”, afirma advogado que moveu ação contra Bolsonaro

35

Realizando em quatro etapas ao longo das últimas duas semanas, a ação que analisava a inelegibilidade de Jair Bolsonaro foi o primeiro a julgar um candidato a reeleição em toda a trajetória política do país. Portanto, o julgamento em si é histórico. Entretanto, o advogado de acusação que moveu a ação que condenou o ex-presidente a oito anos de inelegibilidade, Walber Agra, defende que não há nada nenhuma jurisprudência, abertura de precedente ou até mesmo algo novo na sentença do caso. Muito pelo contrário, o eleitorialista afirma que apenas se fez cumprir a lei.

Um fato curioso chamou bastante atenção na sexta-feira (30), quando o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, disse que em 2021 havia avisado a todos os políticos por reiteradas vezes que quem se valesse de fake news e abusasse do poder em 2022 não só seria levado à Justiça como pagaria pelos feitos criminosos.

“A Justiça Eleitoral avisou a todos os candidatos que não admitiria informações falsas e quem atentasse contra a democracia e isso serviu de alerta para quem descumprisse a lei. Nenhum candidato, especialmente Bolsonaro, poderia alegar desconhecimento da posição da Corte Eleitoral, bem como das principais premissas em observância à Constituição”, disse o ministro pouco antes de votar a favor da perda dos direitos eleitorais de Bolsonaro.

Nascido em Campina Grande, Paraíba, Walber Agra tem 50 anos e é graduado em Direito pela Faculdade de Direito do Recife da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em conjunto com a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo

Natural de Campina Grande, a segunda maior cidade da Paraíba, o advogado de 50 anos mora em Recife há quase três décadas. Em Pernambuco foi onde deu início à sua formação profissional, com a graduação em Direito pela Faculdade de Direito do Recife da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), uma das duas mais antigas do Brasil, juntamente com a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.

Agra também possui mestrado pela UFPE e um doutorado na Itália, na Università degli Studio di Firenze, e um pós-doutorado na Universidade Montesquieu Bordeaux IV. O advoga é autor de 15 livros e organizador de mais 30 obras, além de ensinar Direito Econômico e Financeiro na USP. O trabalho com o PDT, autor da ação movida contra Bolsonaro, começou há menos de uma década ao comparecer à Brasília com frequência para realizar trabalhos.

De acordo com o ministro Alexandre de Moraes, ao encerrar a leitura de seu voto, o investigado não poderia alegar desconhecimento ao descumprir uma regra. Por que ele disse isso?

Olha, o parâmetro legal estava estabelecido desde 2021. Por várias vezes, e o presidente citou três casos paradigmáticos [durante a leitura do voto], dizendo o seguinte, que não iria mais tolerar acintes às instituições e que a disseminação de fake news e discursos de ódio deveriam ser punidos pela justiça e assim o foi, ou seja, apenas cumpriu-se a legislação no século vinte e um o Brasil está entrando no parâmetro legal, veja que coisa contraditória.

A resposta do judiciário foi a altura dos ataques provocados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro?

A resposta do judiciário foi uma resposta legalista. Veja, como é que nós vamos discutir a aplicação da lei, volto a dizer, no século 21? Todo mundo deveria estar muito satisfeito porque a lei chegou não só ao prefeito do interior que várias vezes é julgado aqui [no TSE], mas chegou também para outras autoridades.

O presidente do TSE deixou claro que é uma decisão pedagógica para as próximas eleições.

É um momento histórico porque o princípio legal, o princípio da Constituição, o princípio da igualdade foi ratificado. E veja que é mais forte ainda porque nenhum dos fatos imputados foram negados. As dissidências foram em quê? Nas consequências, mas os fatos, volto a dizer, gravosos, nenhum deles foi negado.

Bolsonaro acreditou que estava acima da lei?

É uma pergunta difícil de responder por ele, mas a lei deve ser pra todos, tanto para Chico quanto para Francisco.

Há parlamentares que cogitaram a possibilidade de anular o resultado do julgamento de hoje. O que o senhor pensa sobre isso? O senhor já está preparado para uma medida jurídica em relação a essa possível ação?

Quem pode responder isso com maior pertinência é o presidente do PDT, André Figueiredo. Eu apenas posso dizer, como advogado, que depois de uma decisão dessa haver um Projeto de Lei, espera-se que não se passe, seria no século 21 estar tentando se criar um veto a uma decisão do Poder Judiciário. E veja, nem a Constituição polonesa de 1937 teve tal ousadia.

A frase que o ministro Alexandre de Moraes repetiu alguma vezes no julgamento de que a justiça é cega, mas não é tola precisa ser repetida pra garantir o Estado Democrático de Direito?

A justiça é cega, mas não é tola porque a justiça não pode ser pessoal. A justiça não pode ter lado, não pode ter ideologia como fora frisado. Mas a justiça não pode permitir que meta-realidades, totalmente dissonantes dos fatos, sejam criadas e a população possa assentir com essas meta-realidades. A questão da pós-verdade é algo que é estudado e é algo que plasma em todos os países, mas desse jeito com tanta mentira, mentira tão rasas… Será que a sociedade brasileira iria se deixar cair portanto dessas mentiras tão rasas? (As informações são do Congresso em Foco)

Deixe um comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Artigos relacionados

Política

Enchentes no RS: senadores apresentam propostas para reconstrução do estado

A comissão temporária externa do Senado que acompanha as ações de enfrentamento às...

Política

Comissão aprova estratégia para diagnóstico de sinais de risco para autismo em pacientes do SUS

Proposta será analisada por outras duas comissões da Câmara e depois segue...

Política

Reforma tributária segue em discussão no Congresso

Entre um turno e outro das eleições municipais, as votações importantes no Congresso...

Política

Comissão de Constituição e Justiça aprova proposta que permite ao Congresso suspender decisão do Supremo

A proposta altera a Constituição e ainda precisa ser analisada por uma...