Após visita fora da agenda oficial, nesta sexta-feira (22), ao ministro da Economia, Paulo Guedes, o presidente Jair Bolsonaro deu sinais de que manterá seu subordinado no Ministério da Economia, apesar das crescentes pressões entre as alas política e econômica do governo. Em uma coletiva no auditório do Ministério da Economia, ao lado do ministro, o presidente disse também que o governo manterá uma postura responsável ao garantir benefícios sociais à população vulnerável, sem produzir “nenhuma aventura com o benefício”.
A possibilidade de demissão de Guedes foi afastada por ambos. “Em nenhum momento eu pedi demissão. Em nenhum momento o presidente insinuou alguma coisa semelhante.”, disse.
Bolsonaro chegou para a visita por volta das 14h30, acompanhado do seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) , e concedeu um pronunciamento a jornalistas cerca de quarenta minutos depois. Ambos falaram por cerca de 30 minutos, com Guedes protagonizando o discurso.
Aos jornalistas, o presidente afirmou ter “confiança absoluta” no ministro Guedes. A declaração ocorre em meio a uma crise na Economia, após quatro secretários de Guedes pedirem exoneração dos cargos. “Tenho confiança absoluta nele, ele entende as aflições que o governo passa.”, disse Bolsonaro.
Guedes falou em “muito barulho” na discussão do Auxílio Brasil – que irá substituir o Bolsa Família, com um valor superior a R$400, prometido pelo presidente. Ele defendeu o que chamou de “licença” para gastar mais. “O teto é um símbolo de austeridade, de compromisso com as gerações futuras. Mas não vamos deixar milhões de pessoas passarem fome para tirar 10 em política fiscal e 0 em auxílio aos mais frágeis”, justificou o ministro.
Apesar de defender a manobra do teto de gastos para permitir o pagamento, Guedes enfatizou que o planejamento não foi orquestrado pela equipe econômica. O ministro fez uso de uma passagem bíblica muito usada por Bolsonaro para apontar que a ideia saiu do bloco do governo federal.
“A verdade vos libertará. A ideia de mexer teto veio de outro lugar. A preferência da economia era manter o teto e pedir uma autorização para gastar um pouco mais, ali ao lado”, confessou.
Em sua fala, Guedes citou os R$ 90 bilhões de precatórios a serem pagos em 2022 como um “meteoro”. O ministro também indicou que a dificuldade em aprovar reformas no Congresso Nacional, como as PECs dos Precatórios e do Imposto de Renda dificultou a capacidade de ampliar gastos do governo. “Como não há uma fonte permanente – os R$ 300 cabiam dentro do teto – porque o Imposto de Renda não andou, empoçou no Senado, o governo não tem que ficar parado”, disse o ministro.
A pressão sob Guedes alcançou níveis inéditos nesta semana, com a demissões de dois nomes centrais à sua política de controle fiscal. O secretário do Orçamento, Bruno Funchal, e do Tesouro, Jeferson Bittencourt, alegaram razões pessoais para deixar os cargos, mas isso passou a investidores o mais claro sinal de que o governo não estará disposto a cumprir sua política fiscal de cumprimento ao teto de gastos.
Sobre eles, Guedes disse considerar “natural” suas saídas, e disse que soube da decisão pela demissão de ambos apenas 24 horas antes da decisão, após a equipe enviar sugestões da PEC dos Precatórios ao relator do texto na Câmara, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB).
No momento em que Bolsonaro falava, a bolsa de valores estava em queda de 1,5%, com uma tendência de recuperação das perdas; o dólar chegou a ser cotado a R$ 5,75, mas já operava próximo da estabilidade, a R$ 5,65. Na noite desta quinta-feira (21), horas depois das deserções, Bolsonaro saiu em defesa de Guedes, garantiu que ele ficaria no cargo e ironizou a reação do mercado financeiro, chamando-os de “nervosinhos”.
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