Pessoas de Balneário Camboriú estariam usando laudos do conhecido médico bolsonarista Alessandro Lemos Passos Loiola pra deixar de se vacinar contra a covid-19. O médico é reconhecido nas redes por manifestações antivacina e ainda no começo da pandemia gerou polêmica por contestar a eficácia das máscaras na prevenção do coronavírus. Ele também foi alvo da CPI da Pandemia no senado, acusado de espalhar informações falsas sobre a covid-19.
O médico atua em São José dos Campos (SP), inclusive com serviço de teleconsultas, e tem registro pelo conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp). Conforme denúncia, o valor da consulta com o médico é de R$ 500 e ele envia o atestado com assinatura digital reconhecida pelo CRM, através dos Correios, para todo o Brasil.
O chamado “Atestado médico de contraindicação para uso de vacinas contra a covid-19” tem oito páginas com argumentos contra as vacinas, citando supostos dados, estudos e links. As conclusões são distorcidas e muitas alegações já foram desmentidas por entidades médicas e de saúde.
O texto é padrão para todos os laudos, recebendo os dados do paciente conforme cada atendimento. A assinatura do médico vai na última página. Antes da marcação da consulta, o atendimento à distância prevê informações que explicam o motivo da contraindicação das vacinas, por serem “drogas experimentais sem doses, nível de eficácia, padrões de segurança e efeitos colaterais bem determinados”, diz o médico.
“Qualquer pessoa que recuse tomar essas substâncias preenche os requisitos necessários para receber um relatório médico contraindicando formalmente seu uso”, diz o trecho das informações repassadas aos pacientes.
A pessoa também responde a um questionário prévio para cadastro do prontuário eletrônico da consulta agendada. As informações incluem dados de documentos pessoais e histórico de saúde, como se o paciente toma algum remédio, se já passou por cirurgias, se tem alergias e se já teve algum quadro de covid.
A consulta é marcada depois do pagamento via PIX. No dia marcado, o próprio médico fala com os pacientes, faz mais algumas perguntas e manda um PDF do atestado. Conforme relato de uma paciente, o documento deve ser impresso, sendo que a última página original, com a assinatura do médico, é enviada por Sedex.
O atestado poderia ser usado em qualquer lugar e é emitido sem prazo de validade, “uma vez os efeitos de médio e longo prazo destas drogas experimentais ainda não são plenamente conhecidos”, segundo a orientação do médico dada aos pacientes.
Vigilância Sanitária – A secretaria de Saúde de Balneário Camboriú informou que desconhecia a situação. “Vou encaminhar pra vigilância Sanitária alertar que não reconhecemos este laudo, que não deve ser aceito. E vou solicitar informações na SES [Secretaria Estadual de Saúde], também”, adiantou.
O DIARINHO pediu a manifestação do Cremesp sobre a prática do médico. A entidade informou que verificaria a situação e responderia até essa terça-feira. Questionamentos também foram encaminhados à Loiola por e-mail e aguardam resposta.
O médico escreveu livros que questionam as vacinas da covid-19 e falam da “fraudemia” da doença. Em 2021, o médico teve a quebra de sigilo bancário aprovada pela CPI da Pandemia, acusado de receber dinheiro público para espalhar notícias falsas sobre o coronavírus pelas redes sociais.
Ele mantinha um canal no Youtube pra falar de política e defender o presidente Jair Bolsonaro em página atualmente indisponível. No domingo, pelas redes sociais, o médico postou que vem sendo procurado por pais em busca de laudo para “livrar os filhos da substância experimental”, em referência à vacinação de crianças.
Em 2020, Loiola foi um dos médicos que participou do abaixo-assinado contra a obrigatoriedade da vacina da covid-19, prevista na lei 13.979/2020. Em 2019, Loiola chegou a ser nomeado como coordenador na secretaria Especial de Cultura do governo Federal.
A fase experimental das vacinas é acompanhada pela Anvisa e antecede a aplicação na população em geral. Depois que o órgão aprova a aplicação e inclusão na estratégia de imunização do país, a vacina não é mais considerada experimenta. (fonte:www.diarinho.net)
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