Durante sua participação no fórum ‘Brazil Summit Europe’, em Berlim, ministro do STF destacou que não há notícias de fraude nas eleições desde 1996 e que militares resistem a serem objeto de ‘paixões políticas’
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso afirmou neste domingo, 24, que há no cenário político brasileiro intenção de usar as Forças Armadas para atacar o processo eleitoral no país. Barroso voltou a defender a integridade das urnas eletrônicas e condenou tentativas de politização do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, ressaltando que, até o momento, os militares têm resistido a serem objeto das “paixões políticas”. O ministro não citou o presidente Jair Bolsonaro (PL), mas os exemplos que deu em uma palestra na Universidade Hertie School, de Berlim, na Alemanha, fazem referência às críticas do presidente às urnas eletrônicas e à necessidade de as Forças Armadas acompanharem todo o processo de perto.
“Um desfile de tanques é um episódio com intenção intimidatória. Ataques totalmente infundados e fraudulentos ao processo eleitoral. Desde 1996 não tem nenhum episódio de fraude. Eleições totalmente limpas, seguras. E agora se vai pretender usar as Forças Armadas para atacar? Gentilmente convidadas para participar do processo, estão sendo orientadas para atacar o processo e tentar desacreditá-lo”, disse Barroso. Também participaram do “Brazil Summit Europe” a ex-presidente Dilma Rousseff (no sábado, 23) e o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (neste domingo, 24). Para Barroso, desfiles militares em desafio às instituições são um “mau sinal” desde a Roma Antiga.
Como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Barroso convidou representantes das Forças Armadas para participarem da Comissão de Transparência, que analisa o processo de apuração eleitoral e o uso das urnas eletrônicas nas eleições deste ano. “Um fenômeno que em alguma medida é preocupante, mas que até aqui não tem ocorrido, mas é preciso estar atento, é o esforço de politização das Forças Armadas. Esse é um risco real para a democracia e aqui gostaria de dizer que eu que fui um crítico severo do regime militar, militante contra a ditadura. Nesses 33 anos de democracia, se teve uma instituição de onde não veio notícia ruim foi das Forças Armadas. Gosto de trabalhar com fatos e de fazer justiça”, enfatizou Barroso.
O ministro afirmou que o Supremo precisa do apoio da sociedade para conseguir enfrentar os ataques e garantir que o resultado das eleições seja respeitado. “No Brasil, penso que temos uma história de sucesso apesar do esforço contínuo de gerar embates com a Suprema Corte. Nos Estados Unidos, foram 60 ações para tentar anular eleições, duas chegaram à Suprema Corte e nenhuma foi acolhida. Cortes constitucionais não têm condições de ganhar briga se lutarem sozinhas. Precisam de sociedade civil. Onde enfrentaram sozinhas, as supremas cortes perderam”, alertou. O ministro do STF avaliou ainda que há o risco do que chamou de “retrocesso cucaracha” com o envolvimento do Exército na política, e citou o que aconteceu na Venezuela nas últimas duas décadas, lembrando que o país vizinho se tornou um “desastre humanitário”. “Tenho a firme expectativa que as Forças Armadas não se deixem seduzir por esse esforço de jogá-las nesse universo indesejável para as instituições de Estado que é o universo da fogueira das paixões políticas. E até agora o profissionalismo e o respeito à Constituição têm prevalecido.” ( Com informações do Estadão Conteúdo)
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