Um momento nostálgico, que nasceu nas cozinhas italianas e traduz o simbolismo da culinária para o italiano. Estamos falando do Tombo da Polenta, o ato de derramar uma grande quantidade de polenta cozida em uma forma para que seja feito o corte. O que é parte de um processo na preparação de um prato, para os italianos é um momento de reunião, cantoria, danças, alegria. Afinal, para este povo, a comida não é apenas uma necessidade, mas uma forma de celebrar a vida, a família e as tradições.
Pela primeira vez, o 19º Festival Italiano de Nova Veneza irá trazer esta tradição para o evento. No jantar de lançamento do evento para imprensa e convidados, agendado para 21 de maio, a organização do evento, juntamente com a Associação Cultural Italiana de Nova Veneza (Acinove) irão reproduzir este momento tão marcante para as famílias italianas no passado.
O descendente de italiano e morador de Nova Veneza, Pedro Peixoto, conta que o Tombo da Polenta acaba acontecendo de forma muito natural dentro das casas ou quando havia uma reunião de pessoas em torno dos preparativos do prato. Uma de suas lembranças vem das frentes de trabalho organizadas pelo seu avô. “Como antigamente o trabalho era braçal, era comum necessitar de um número grande para executar uma frente de serviço. Eu ainda me lembro quando meu avô estava conduzindo um trabalho assim e, para alimentar toda aquela gente, providenciava a polenta e o tombo da polenta. Virava um evento”, recorda.
Hoje, ele faz parte da Acinove e foi um dos grandes incentivadores do Tombo da Polenta, prato que, aliás, faz parte de todas as refeições do italiano. “Na época não tinha energia elétrica e a polenta era uma comida fácil de fazer. Como havia algumas versões do prato, comíamos no café da manhã, no almoço e na janta”, conta
O grupo, formado por 80 integrantes, todos descendentes, começou a se reunir desde 2023 com objetivo de fazer um resgate cultural. Uma das atividades que fizeram foi o Tombo da Polenta, que foi realizado em eventos do grupo e agora vai acontecer no lançamento do 19º Festival Italiano de Nova Veneza.
“Para fazer o Tombo da Polenta, um exército de polenteiras da Cantina da Nonna, a cozinha oficial do Festival Italiano de Nova Veneza, foi escalado. Elas ajudarão os integrantes da Acinove na condução do momento nostálgico”, conta Maria do Carmo Basílio, coordenadora do festival. A polenta não pode deixar de ser mexida e o ponto certo é a cremosidade. Assim que termina o cozimento, ela é despejada num recipiente, onde é servida em seguida, em meio a muita música, alegria e animação. “É a nossa pamonhada”, brinca Marlene Stival, também descendente e presidente da Acinove.
Uma força-tarefa será criada entre 40 integrantes da Acinove e as polenteiras da Cantina da Nonna. “Todos irão pôr a mão na colher para mexer a polenta no caldeirão”, diz Marlene Stival, ao contar como se faz o prato. “Na época dos nossos avós, jogava-se o fubá na água fervente e mexia-se até ficar pronto. Mas como vamos fazer num panelão gigante, vamos colocar o fubá na água fria e não deixar pelotar. O segredo é o cozimento. Quando criar uma crosta, é o ponto certo de servir”, explica.
Mais do que ver um dos principais pratos da Itália feito em um caldeirão gigante ser derramado num recipiente, a ação celebra a partilha, a identidade de um povo e o gosto pela fartura. “Essa é uma tradição italiana, principalmente na região norte do país. Muitas famílias se reúnem em torno de um caldeirão e, quando a polenta fica pronta, há o tombo para uma vasilha, onde as pessoas se servem. É uma tradição lindíssima, que iremos realizar pela primeira vez em Nova Veneza”, conta Maria do Carmo Basílio.
*Na história*
O Tombo da Polenta é uma das maiores tradições gastronômicas da Itália, principalmente nas áreas rurais do norte do País, na região de Vêneto. A polenta era feita principalmente de farinha de aveia, mas podiam ser utilizadas farinhas de outros cereais como o trigo.
Pouco depois da chegada dos espanhóis ao Caribe em 1492, o milho foi introduzido na Europa. Na Itália, o grão passou a ser cultivado primariamente no norte, onde as chuvas são abundantes. A partir de então é que a polenta passou a ser feita de farinha de milho.
Antes de ganhar o restante da Itália e as comunidades italianas espalhadas pelo mundo, a polenta era considerada comida de pessoas pobres por ser mais barata. Muitos, na época, trocaram o tradicional macarrão, e até o pão, pela polenta. Hoje, é um dos principais pratos da culinária europeia.
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