Segundo o professor Carlos André, o Brasil precisa deixar de oferecer apenas alfabetização técnica e migrar para uma alfabetização crítica
Quase um terço dos brasileiros entre 15 e 64 anos não consegue compreender um texto simples nem realizar operações matemáticas básicas. O dado, revelado pelo Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) 2024, evidencia um problema estrutural: o analfabetismo funcional. Para o linguista e professor Carlos André, fundador do Instituto que leva seu nome, isso evidencia um problema que vai além da educação: trata-se de um desafio civilizatório. Mas sim, é possível reverter esse cenário com ações diretas e consistentes, baseadas em leitura, valorização da língua materna e pensamento crítico.
“O analfabeto funcional sabe ler palavras, mas não entende o que leu. A leitura é apenas mecânica. Isso limita o raciocínio, o trabalho e até a cidadania. Além de uma questão pedagógica, o cidadão fica impedido de compreender leis, exercer direitos, fazer escolhas políticas conscientes. É uma barreira real ao exercício da cidadania”, afirma Carlos André. Com mais de 30 mil alunos, seu Instituto promove iniciativas como o Clube dos Intelectuais, que reúne alunos para discutir obras sob diferentes pontos de vista.
A ideia é mostrar que linguagem, literatura e sociedade estão interligadas. “Ninguém aprende português de verdade isolado da realidade. É preciso debater, comparar, refletir”, diz o professor. E o primeiro passo para isso é desenvolver o hábito da leitura. “Ler é um exercício de musculação mental. Você não vai à academia uma vez e espera resultado. Com o texto, é a mesma lógica. Se preciso for, participe de rodas e clubes de leitura para se sentir mais motivado. Comece com textos mais simples, mas invista na leitura”, afirma. Releituras também ajudam a aprofundar a compreensão e ampliar o vocabulário.
Outra estratégia importante é aprender a questionar o que se lê. “Pergunte ao texto: o que o autor quer dizer? Como isso se conecta com a realidade? O que está nas entrelinhas?”, sugere Carlos André. Essa prática desenvolve o pensamento crítico e ajuda na interpretação de textos complexos.
Ainda segundo o especialista, a língua é a ferramenta mais importante de inserção social. “Falar, escrever e interpretar bem é dominar o código do país. É ter autonomia, voz e força de atuação na sociedade.” Ele defende a valorização da língua materna como um eixo central de reconstrução nacional: “Sem isso, não há desenvolvimento duradouro. É preciso investir em políticas públicas e nos professores.”
Para que o país avance, é preciso ampliar o foco da educação: da alfabetização técnica para a alfabetização crítica. Para o professor Carlos André, a reconstrução do Brasil passa por uma leitura profunda de si mesmo. “E essa leitura começa com o domínio da própria língua”, conclui.
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