Cerca de 2,8 milhões de testes RT-PCR para detectar a Covid-19 seguem encalhados no Ministério da Saúde, mesmo após a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) estender o prazo de validade até junho deste ano.
Em dezembro do ano passado, a Anvisa prorrogou, por mais quatro meses, o vencimento de 6,9 milhões de exames que estavam prestes a ser descartados.
O Ministério da Saúde informou que, desse total, 4,1 milhões foram enviados aos estados e ao Distrito Federal. Isso não significa, contudo, que os exames enviados às unidades federativas tenham sido aplicados, uma vez que os governos estaduais também compraram testes para identificar o novo coronavírus (Sars-CoV-2).
A pasta federal da Saúde ressaltou a possibilidade de nova avaliação da Anvisa para estender o prazo de validade desses exames estocados.
A agência reguladora revelou, porém, que ainda não tem “perspectiva do que poderá ocorrer com os referidos testes”, comprados em abril de 2020, por meio da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS).
Ao estender o prazo de validade, a Anvisa condicionou a decisão a medidas de monitoramento das condições de armazenamento e da avaliação laboratorial que deverá avaliar se os produtos mantêm o perfil de eficiência.
Em nota, o Ministério da Saúde esclareceu que “trabalha, juntamente com os estados e municípios, para que nenhum teste perca a validade”. A pasta disse ter gastado mais de R$ 1,1 bilhão em exames.
Para tentar esvaziar o estoque, uma das estratégias usadas pelo ministério foi oferecer doação de 970 mil exames para o Haiti. O país caribenho, no entanto, recusou a oferta, aceitando apenas 30 mil, segundo revelou o colunista Guilherme Amado, da revista Época.
Dados do Gerenciador de Ambiente Laboratorial (GAL), do Ministério da Saúde, apontam que o sistema público aplicou até agora 13,058 milhões de testes RT-PCR – que têm resultado mais preciso, se comparado a testes rápidos e sorológicos.
Inicialmente, a meta era superar 24 milhões de exames RT-PCR até dezembro de 2020.
Em março de 2021, foram aplicados cerca de 1,4 milhão de exames RT-PCR. Em dezembro de 2020, esse número foi de 1,8 milhão, o maior número para um mês desde o início da pandemia.
A taxa de positividade desses exames é de 33,5%, bem superior ao limite de 5%, indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como patamar indicativo de que a pandemia de Covid-19 está controlada.
Diretor da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal (SIDF), José David Urbaez explica que esses dados representam, mais uma vez, uma “política pública” do governo federal de negar a pandemia.
“O Brasil está se limitando basicamente à pessoa que tem sintomas da doença. Estamos testando muito pouco. É mais um dos fatores que apontam a ausência de ferramentas potentes de controles da pandemia”, diz.
Urbaez destaca, ainda, que o país não tem usado somente o teste molecular (RT-PCR) para diagnóstico da pandemia, mas também testes rápidos e de sorologia, “onde há uma distorção enorme do resultado”.
Se contar com esses exames, e incluir ainda aqueles que foram realizados em laboratórios privados, o país aplicou 44,3 milhões de testes para detectar o novo coronavírus.
“Negou-se a falta de oxigênio para o Amazonas; negou-se no início, e ainda continua se negando a magnitude da crise humanitária. Seria improvável, então, que a administração pública acelerasse a distribuição desses testes”, complementa o infectologista.
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